quarta-feira, 28 de novembro de 2007

UM GRANULADO



Um pão de mel depois, ela ficou mais feliz.
Você foi trocado por uma massaroca de farinha, ovos, fermento e Nescau recheada com doce de leite.
Fodam-se os quilos a mais.
O arrependimento veio em dez minutos.
Ela não precisava de tanto chocolate.
Porque nunca precisou tanto de você.
Um granulado bastaria para te substituir.
Então voltou atrás.
Foi ao banheiro, enfiou o dedo na garganta e tirou você da vida dela pra sempre.
Antes de dar a descarga, abriu o gloss e despejou o líquido em cima.
- Não se esqueça do meu gosto.

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

NECESSIDADE DE ROMANCE

(Coluna para o site Guia da Semana)

 

Voltei insatisfeita do meu final de semana, que não foi preenchido com um único filme, ou mesmo um seriado. Pois é, perdi a reprise dos capítulos de “American Idol”. Choro com as histórias tristes e me arrepio com uma boa voz feminina. Esperar por “Grey’s Anatomy”, uma das séries mais românticas do momento, seria insano. Dez da noite, não mesmo! Eu queria naquele momento. Vou tentar esquecer aquele hospital e comprar a caixa com todos os episódios no final da temporada. Assim resolvo todos os meus problemas. É isso! Paro de assinar a TV a Cabo, assim me livro das (até) oito horas diárias em frente à televisão, conseqüentemente economizo os R$ 79,99, guardo no meu porquinho e no final do ano compro todas as temporadas dos futuros clássicos da TV Americana! Lorelai e Rory Gilmore estão na lista.

Fui me consolar no teatro. Precisava de emoção. A peça era infantil. Como tudo estava valendo, chorei logo que li o texto do programa. A peça era linda. Tinha romance! Mas era “criança” demais para os meus planos.

De repente um “insight”. Alguma voz ou a “Nanda” soprou no meu ouvido de onde vinha a minha repentina necessidade de romance. Por que me veio a vontade de escrever um texto com o título “Necessidade de Romance”. Tudo aconteceu de manhã quando ouvi as palavrinhas mágicas! Não, mamães, não é “por favor”, nem “obrigado”. É “Orlando Bloom”. Não é obsessão pelo ator. “Jennifer Aniston”, “Antes do Pôr-do-Sol” e “Débora Falabella” me despertam a mesma necessidade. Meu repertório de comédias românticas me denuncia a qualquer um. Sou fã! Não nego. Chega! Passei a vida inteira com vergonha de confessar que Sandy, a mocinha de Grease é a minha musa inspiradora.

Parecia abstinência: eu precisava de “Tudo Acontece em Elizabetown”. Só pensava na cena em que os dois passam horas no telefone. A Kirsten é demais. Eu quero usar top marrom e touca vermelha pra chegar um pouco mais perto do que é a Claire (personagem dela no filme, se você é uma mulher romântica, já sabe). Como se um figurino besta me tornasse uma pessoa rodeada de romance, com atitudes românticas. Quando cheguei na vídeo-locadora, um “alugado” era a última notícia que eu queria ouvir! Eu teria de ir pra casa sem a minha pitada de romance. Eu fui. Fazer o quê?

Por que será que eu precisava dessa superficialidade toda? Por que é que quando eu fuço a vida de uma pessoa que ama as flores, a família, a horta e um marido que lhe serve vinho tinto, depois de um dia pesado, todo esse amor parece tão mais intenso do que as coisas que eu vivo?

Size The Day! Carpe Diem! Talvez se eu respeitasse isso, o amor não faria falta. Eu não acordaria em minhas madrugadas para ligar a TV e assistir a alguma história espontânea de amor. Acho que eu quero viver aquilo, do mesmo jeito. Se eu pensar que a minha vida é uma trama tão romântica quanto todas as comédias e novelas e séries que acompanho, talvez eu parasse com essa coisa de “necessidade”. É que sou tão ansiosa, quero ver logo o final feliz da minha história.

Acabo me enganando o tempo inteiro lendo revistas de bem-estar, tentando seguir os passos à risca para ser feliz no amor, na carreira, para dar um passo ousado, para criar um ambiente harmonioso (sem feng shui, pelo amor de Deus) em que eu possa viver e trabalhar. Sinceramente nunca cumpri nada do que, um dia, concordei em fazer ao ler essas matérias. Eu mereço passar por essa necessidade! Vivo planejando o meu romance e o resto da minha vida. E tudo fica só nos planos. Quando paro pra pensar na minha música, na nossa, descubro que não tenho. Quando quero te presentear, erro, não presto mais atenção em ninguém que não possa receber um Oscar ou Emmy um dia. Quando quero rever as fotos das pessoas e lugares que um dia conheci, não vejo, pois tive preguiça de bater.

Enquanto isso eu desprezo o meu tempo e tudo o que eu poderia fazer de diferente agora e projeto a minha felicidade nos romances dos outros, como se fossem meus.

 

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

À ESPERA DA BRAZOCA DE GENALVA

(Texto que concorre no Concurso Literário de novembro da Revista Piauí)

http://www.revistapiaui.com.br/2007/nov/concurso_p.htm#p

 

    "Genalva, vem me buscar que eu estou odiando." Desligou o celular pré-pago e limpou o visor na jaqueta. Joana não era dada a festas de família. A tia perguntando quando iria se casar. A avó vagando pelo salão escondendo bolachas Maizena nos bolsos do penhoir. A mãe, Dona Edi, escancarando a vida dela para quem quisesse ouvir. A solução, depois que completou dezoito, era se embriagar com latinhas de cerveja Cintra. Ainda por cima não entendiam nada de bebida! Mas a cerveja subia que era uma coisa! E tinham os risoles encomendados da padaria do bairro da Casa Verde. Odiava aquela massinha branca que ficava nos dentes sempre que mordia um. Recorria à torneira do banheiro unissex, limpava os dentes e voltava ao porre: bebida e festa.
    Enquanto Genalva não chegava, o primo arriscou uma conversa boba. Menos mal. Ela tinha mais paciência para pagode do que para as pitangas que a tia solteirona chorava depois do Parabéns Pra Você, seguido de Com Quem Será?. Assim resgatou da pré-adolescência Domingo do Só Pra Contrariar. O primo não se lembrou. “Cadê você, Genalva?” Abriu a quinta latinha e desejou que o barulhinho da pressão fosse mais longo. Deus! Como gostava daquele som! Recordou-se de Rony. Sempre que levava um fora dele, conhecia alguém interessante. No último, Genalva, que surgiu dizendo “Olá” e abrindo uma cerveja. Nada romântico, mas o jeito como ela consolou suas lágrimas minutos depois, faria até a mãe de Joana aceitar. Almoçariam com Dona Edi aos domingos.
    Ainda não avistava a Brasília de Genalva. Uma droga ser garçonete! Nem dinheiro para comprar uma Vespa e adquirir a liberdade de ir e vir! Poderia usar botas de couro, enquanto recebesse o vento das ruas de São Paulo no rosto! Ao estacionar em frente ao serviço, tiraria o capacete vermelho, balançaria o cabelo e acenderia um Marlboro Light. Fumaria até se encher. Ao fim, jogaria a bituca no chão e apagaria com o pé. Sim, ela tinha seus momentos femininos, apesar de odiar saias. Mas não tinha uma Vespa e dependia da Brazoca da Genalva. Uma ponta de inveja da esposa!
    Ouviu o barulho do motor típico dos carros dos anos 80. Joana disse “Tchau” sem olhar para ninguém e desceu as escadas em direção à rua. Antes de entrar no carro, a mãe saiu à porta. “Arranjem logo um namorado! O povo comenta!” Joana inspirou fundo todo o ar da Casa Verde e se sentou no banco cheio de pó. Genalva ligou o RoadStar na Nova Brasil FM. Tocava uma música da Ana Carolina. As duas sorriram e foram embora dublando Pra Terminar.

 

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

“SÓ TINHA DE SER COM VOCÊ”


Pularam de mãos dadas.
Sorriam enquanto despencavam.
O vento nos cabelos, nas bochechas.
Sorriam para as nuvens e o céu azul claro.
Tudo em câmera lenta.
Teve tempo de lhe perguntar por que riu. Ela disse que havia lembrado da franja dele, que cai na testa quando fica bêbado.
Ele devolveu a graça recordando que, quando bebe, ela não consegue falar inconstitucionalicimamente.
Antes que ela provasse ser capaz de pronunciar tal palavra, esborracharam-se no solo da Chapada Diamantina.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

UMA FESTA SEM CERVEJA

Ele conversava com dois amigos. Os três usavam verde. Só ele bebia Coca-Cola.
Ele conversava com dois amigos quando ela entrou na festa de azul, sorriso ansioso e olhos pintados.
O DJ tocava um samba triste. Não ficaria até tarde. Foi para espiar o movimento. Passou por trás dele de propósito. Passou reto.
Quando ele olhou para trás o cabelo vermelho dela já cruzava a porta de saída.
Não teve coragem de deixar o salão antes de ter a certeza de que ela não estaria do lado de fora. Nem na rua. Nem nos ares. Nem no seu caminho. Nem mesmo dentro do carro de outra pessoa, parado na frente do prédio dela.
Não teve coragem de olhar nos olhos de quem a acompanhava.
Chegando em casa, abriria a garrafa de vinho e quebraria o pacto com a melhor amiga de não encher a cara. Já embriagado pensaria nela e se controlaria mais uma vez para não discar o número do seu telefone. Sempre se contendo. Sempre disfarçando. Sempre fingindo que ela não importa.
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