Pedreiros satisfeitos dormem sob árvores, que enfrentam o sol agressivo que faz quando a marmita esvazia.
O vento sussurra algo no ouvido de folhas secas, que
abandonam o cochilo para sassaricar pela rua. Enfeitam o meu rastro.
A casa da esquina, já decadente pelo seu bege descascado,
observa a melhor paisagem do bairro: o outro lado do morro, onde casinhas
coloridas se espremem, compondo a intenção de parecer um quadro.
O meu tênis velho, salvo três vezes pela cola de um
sapateiro aposentado.
Os meus olhos tentando invadir as janelas daquelas casas. Avistam
um pergolado e o desejam.
Um garotinho loiro parece ter dois anos e conversa, com sua
voz extremamente fina e infantil, com a avó peituda, que está sentada em um
banco de madeira escura na área da casa.
O homem que lava o seu taxi religiosamente aos domingos e às
quartas, descaradamente com seu short curto debaixo de uma enorme barriga. O
homem era amigo do meu avô.
A casa em exposição, arejada, cheia de escadas e uma
graminha e uma piscina limpa e azul, de novecentos e vinte mil reais, onde eu
não moraria, porque novecentos e vinte mil reais, faça-me o favor.
Então, o latido do cachorro. Aquele que, sempre que me vê,
late, rodopia e pula, necessariamente nessa ordem. O meu cachorro.
O portão fechando. A primeira caminhada.
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Em que você repara quando caminha pela cidade? Conte pra mim. ;)
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Em que você repara quando caminha pela cidade? Conte pra mim. ;)