terça-feira, 27 de setembro de 2011

AQUI!


eu pendurei luzes de Natal na minha saia. você reparou? eu aproveitei pra pintar os cílios de verde e rir bem alto toda vez que a campainha toca, mas você lia alguma coisa interessante. eu enfrentei o espelho depois disso tudo e ele rachou de preguiça. os cacos explodiam alguma palavra que já ouvi quando acordo de pesadelos enrugados. eu entrei no banho e os enfeites escorreram com um sabonete infantil. Eu escolhi um vestido discreto, porque não quero parecer uma. você sabe. pode ser que eu seja uma. mas não tenho certeza de. depende do mês. depende dos olhos. eu saí correndo, porque eu não sei. se a cor do meu cabelo fica bem. se meu português tá correto e as minhas unhas limpas. não sei e não quero falar do que não gosto. quero só criar bolhas de sabão em cima dum escorregador. pra elas voarem bem alto e furta-cor. pra estourar no nariz de alguém. no seu.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

CRUZAMENTO

Foi uma história em fast foward. Quinze segundos eu acho. Eu assisti à transformação de um personagem. Grande ator esse que encontrei na rua. Me pediu um beijo, que recusei. Talvez ele não esperasse, porque um vidro aberto em uma madrugada quente demais para pertencer ao inverno, tenha a ver com disponibilidade óbvia. E pode ter sido que quisesse disfarçar a tristeza da minha rejeição. Pode ter sido isso. Feri os sentimentos de um desconhecido. No segundo ato, vi em seus olhos a mudança de cor. Disse que chamaria a polícia. Mostrou-me o pescoço. Um corte. Repetiu a polícia. Os olhos focados em mim. Esperei um revólver. Esperei um canivete. Agradeci não ter vidro automático e paciente. Bloqueei a voz dele. Meu pânico ficou pra dentro. Exibiu-se ainda na frente do carro. Na faixa de pedestres, como manda o civismo. Ainda falava. Do corte. Eu lia Polícia em seus lábios. Meu coração batucando e ele se foi. Foi pra polícia. Meu acelerador me salvando dali.

sábado, 3 de setembro de 2011

SLEEP

O corpo medroso prevendo furacões morde a própria garganta. Qual recado urgente o coração precisaria desafogar desta vez?  Mãos proibidas de seu pescoço e de copos americanos. O dia estável. A vida escrita em quantas páginas eu mesma determinar. Olhos surdos a sua presença. Ou mornos. Uma manhã de sábado sem lembranças indigestas da noite anterior.  
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