quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

ELE NÃO VÊ A HORA DE GRITAR FELIZ ANO NOVO PARA SETE ONDAS

 

Não confraternizou. Só passou raiva. Nem beber, bebeu. Quer dizer, não encheu a cara. Forçou sorriso. Forçou obrigados. Forçou tudo bem. Ouviu sobre cruzeiros e música eletrônica e que homens quando cozinham, são melhores que mulheres. Teve até agressão sutil da tia na sogra. Ainda bem que ele não estava lá. Mas tentaram trazê-lo de volta. Que coisa essa no seu trabalho! E quando casa? E quando vem me visitar? E tá feliz? E tá triste? E por que você não me ligou? E o que vai fazer agora? - trabalho voluntário no Quênia, serve? - Assuntos chatos demais para alguém que só queria ficar sozinho e olhar para a foto dela mais um pouco antes de deletar e trancar essa dor em 2008.

sábado, 20 de dezembro de 2008

NÃO DESEJO PAZ, SAÚDE, DINHEIRO E PRINCIPALMENTE AMOR

 

   Alice não vai escrever cartões de Natal. Porque o ano não foi bom. Foi vazio. Cheio de expectativas esfareladas. Cheio de descompromissos anunciados para os quais ela fechou os olhos. Cheio de noites omitidas pelo álcool. Cheio de amor banalizado. Alice culpa um certo cartão que enviou há um ano. O azar como resultado de uma ingenuidade daquelas palavras. Mas é ingênuo todo impulso aceso pelo mistério. Porém de arrepender-se, Alice não é capaz. Não reprime grito e suor e lágrima e arranhão e vômito e gargalhada e tapa na cara. É de excessos. Gosta de contar os detalhes, nem que seja apenas para lençóis salgados e ainda virgens. Alice não erra na segunda. O cartão vai ficar para os livros que ela ainda vai escrever. Ela espera que, ao ler, Chico não se lembre daquele fim de ano. Mas que ele leia. E que se lembre dela. E que dêem risada do incômodo que a raiva causa hoje.

 

sábado, 13 de dezembro de 2008

 

E tira essa mão da minha perna e os olhos de cima da mulher encostada na parede! Que mania de todo mundo você tem!

E sai da minha frente que eu vou deixar o bar e você!

E vem atrás de mim quando eu dobrar a esquina!

E fica quieto enquanto eu rego o seu ego com meus destratos!

 

E finge que acredita!

 

E tira as desculpas da manga!

E forra as minhas confusões com silêncio!

E encosta logo um pouco de vontade na minha boca!

E não me deixa ir embora sozinha desta vez!

E volta aqui!

Volta...

 

Eu finjo que acredito.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

PARA UMA AMIGA ATRIZ


Não espere cores de olhares devolvidos

Não busque flores em carinhos dispensados

A música finca a flecha no inesperado


Não procure


O cinza

você mesma aquarela

Recolhe a poeira

e despeja

no vazio

do choro mudo


Não procure


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

PROMESSA QUE TE CONTEI

 

que seria mais impulsiva

que não me intimidaria com um desvio de atenção

mas incertezas brecam

um simples olá

SE EU FOSSE MADAME


em dias como hoje

me punha granfina

Metia maiô, chapéu e pose

Tomava glamour ao pé da piscina

Pedia champanhe

Chamava as amigas

Deixava o sol esquentar

E o porre esquecer

uma vida vazia

Mas não sou madame

Sou funcionária

Dias como hoje

não são para mim

O sol arde

o meu jeans

molha minha nuca

mela meu texto

embaça meus prazos

enquanto teclo

por latas de cerveja

cheiro de cigarro

aplausos

abraços picados

avisos picantes

beijos tímidos

e luas

e livros

e sábados

e domingos

com muito sal


sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

SOU DESSAS


De poesias manchadas no guardanapo que interrompem bate-papo de bar. De foto três por quatro morando na carteira. De choro. De olho no olho. De amor à primeira vista. De gostar de abraços largos. De não dá-los. De vontades que explodem e preenchem o caminho de volta para casa. De madrugadas. De planos abertos pelo retrovisor do carro. De baixar a cabeça e fugir para o balcão. Uma cerveja e dois copos! De dedos costurados dentro de uma sala de cinema escura. De nuca. De nunca mais vou beber. De flerte no meio de trombadas. De meias palavras. De tudo escrito. De tudo acabado desta vez. De voltar atrás. De olhar de longe. De fingir que não viu. De mentir que não te fuça. De declarações duras. De tapas leves. Que dizem verdades. De acreditar em vou aparecer mais. De não rasgar fotos. De escrever pessoas em uma bexiga de gás e olhar para o céu enquanto elas se apagam de mim. De cair na mesma história. De novo. Do mesmo jeito. De não prevenir nenhum desgosto. De passar a borracha em um número de telefone. De esquecer que passou. De contar que passou. E esquecer também que contou. De ligações no dia seguinte. De ligações perdidas. De propósito. De alôs mais gagos que convites. Ao vivo. De desligar o telefone e deixar o silêncio dialogar. E de atacar as reticências às páginas brancas. De me conhecer só assim, já que sou dessas que gostam de.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

DEPOIS DO ENCANTO...

*
Depois do encanto, a mágoa. Porque a raiva já descansa na manhã de alguma padaria entupida de abelhas, pães de mel e gente bêbada e apaixonada.
Depois de lágrimas, a gratidão. Porque afinal escrevi. Porque tudo que abala o estômago vira palavra. Porque todas as incertezas tiveram respostas fantasiadas.
Depois do sorriso, as costas. Porque a simpatia tem recaídas. Porque o passado tem rosto. E pode ser confundido com presente. Para sempre.
Depois daquele dia, uma tecla: delete. Porque delicadeza, só se regala a quem merece.
*

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

*

 

Continua!

 

Eu deixo

Alivia

 

Depois, pensa:

Ninguém é só branco

Nem todo abraço é santo

Todo eu te amo é sincero

até o dia seguinte

porque o medo

ordena recuo

E assim

fica-se

esperando do outro

flores

que não caem

poesias

explícitas

elogios

que não afogam

o mal-entendido

um desvio

e trilham o fim

desde o início

 

Continua...

 

*

 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A MENINA ENTRA NO SALÃO

A menina entra no salão
Tropeça em bebida, amasso e balanço

Em cima da mesa, ele dança
A fumaça de cigarro enfeita

Ela espia do canto

A música evapora

Vibram as mãos dele
e os olhos dela

Permanece covarde
entre beijos alheios e risadas
até acordar

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