Depois de tantos anos, ainda olho para o espelho e, ajeitando meus poucos fios de cabelos brancos, cantarolo a música que você me mostrou naquela noite. Confesso que das minhas farras nos bordéis de Toledo das Campanhas apenas aquela tem capítulo exclusivo na minha vida. As outras resolvi em uma curta crônica, publicada há doze anos no jornal do meu bairro. Quando você me levou ao seu quarto, esperava que, ao trancar a porta, arrancasse a sua roupa. De maneira feroz, porém feminina. Não é o que vocês todas fazem? A inexperiência e o nervosismo fizeram você desencapar o violão. Você tinha uma voz limpa e suave. As últimas sílabas de cada palavra cantada produziam um som nasal gracioso. É esse som que me faz parar de mexer no cabelo para sorrir curto e distraído. Além da melodia, que não me saiu da cabeça. Uma letra que não consigo dizer. Contava a nossa breve história. Que história? Não voltei a lhe procurar. Você foi de tantos antes e depois de mim. A inexperiência e o nervosismo me fizeram nunca mais aparecer. Você também não abandonou a sua vida para bater na minha porta numa madrugada qualquer, chorando, de maquiagem borrada. Poderíamos ter sido. Focando os meus pés-de-galinha, pensei em lhe procurar. Publicar uma loucura nos jornais nos quais tenho contatos, poucos. Sou velho, hoje, e não tenho mais frescuras. Se quero usar chapéu de policial, uso. Uso e fico bem apanhado. Você cantaria pra mim?
Um comentário:
Muito bom!
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