No banheiro, ele. Olhos verdes e boné. Ele, canalha. Do jeito que eu gosto.
- Achei que tivéssemos combinado na porta do cinema.
Engraçado, mas essa frase era para ser minha. Ele é esperto e se antecipa, jogando a culpa do suposto desencontro em mim.
- É. Combinamos.
- Por que você não apareceu?
Olho para a porta do banheiro para distrair a minha raiva e respondo que:
- Acabei encontrando um amigo no caminho e paramos para tomar uma cerveja.
Os olhos verdes encaram meus lábios enquanto falo e eu acho que esse é um dos momentos que não vai sair da minha cabeça nas próximas semanas. Pelo menos enquanto ele tiver alguma importância para mim. Enquanto essa historinha render.
Um mês de conversa na internet é convívio, não? Eu inventava desculpas frágeis para sair mais cedo do trabalho e colar os dedos no teclado. Jantava em frente ao computador para não perder um smile sequer. Sempre foi ele quem se despediu. Tenho de dormir, amanhã acordo cedo. Eu nunca tomei essa iniciativa. Nem em dia de rodízio em que acordo às cinco da manhã! Passávamos a madrugada relembrando as trilhas das novelas. Stay, Oingo Boingo – a minha preferida. Ele sabia que eu não era capaz de encerrar a conversa. Se não estivesse envolvido não perderia tanto tempo comigo, deve ter pensado. E se me conhece um pouco, também sabe que dormir é a coisa de que mais gosto, depois de afundar os pés na areia da praia.
Ele é bem mais bonito do que na foto. Bem mais bonito do que se descreve. Não é tão alto como disse e a camisa xadrez dá um ar de alguém muito mais desencanado do que desenhei. Melhor assim, gente de camisa me dá pânico. Podem falar da alta do dólar ou da viagem de cruzeiro que fizeram na Páscoa. Pânico. Mais pânico quando ele sugere:
- Vamos descer?
- Claro.
Um minuto e ele já me fez esquecer o homem do cigarro que me espera lá embaixo.
(Continua...)
2 comentários:
Aquele encanto de outrora voltou, tuas palavras mexem. Espero que saiba disso.
Obrigada, Ali.
beijo
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