Olha para os trilhos do metrô. Para uma banheira e um
secador. Para cordas. Para comprimidos. Olha do décimo sétimo andar. Sem ser
tocada pelas ideias de antes. A porta abre, ela invade o vagão. Ocupa-se com o celular, os
sapatos dos passageiros. Sempre tem alguém tossindo em cima dela. Sempre tem um
senhor frágil que se recusa a sentar, quando lhe oferecem. Na TV, seu horóscopo
nunca passa. Um casal chora abraçado, perto do assento preferencial, e ganha
alguns segundos do foco dela. Segundos hipnóticos. Ela decide voltar para o
celular, para os sapatos dos passageiros. Ela decide não se envolver. Repara em
uma sandália lilás enfeitada com miçangas e ofuscada por um pé cascudo e unhas
sujas. Um homem a encara. Um homem fedido a encara. Um fedido bom. Um fedido
suportável. Cheiro de pessoa normal. O que é normal? Pedro se acha normal.
Normal pra ele é não precisar de alguém como ela precisa. Ela é capaz de
suportar essa anormalidade? Normal para Pedro é fugir dos clichês que ela
aprendeu a gostar. Ele odeia o que tem que ser feito. Isso é normal para alguém
como ele, que encara correntezas. Normal é escrever sobre ela não conseguir
lidar com as normalidades dele. A menina do casal soluça. O garoto a abraça
mais forte. Ela procura outra coisa para observar e repara que seu casaco está
forrado de fios de cabelo. O que será que diminui queda capilar? A internet
deve ter a resposta. A voz do motorista anuncia a estação em que ela costuma
descer. Ela sai, abraçando uma mecha de cabelo frágil com o dedo indicador. Sem
vontade de soluçar, sua anormalidade.
7 comentários:
Como sempre, a melhor!
Linda.
Adorei! Prendendo a atenção, como sempre.. <3
Muito bom!
Dentro da anormalidade é possível se descobrir o qual normal é ser anormal.
Gostei, ótimo post.
Oi, pessoal. Desculpem a demora para responder os comentários. Estou em semana de externa.
Obrigada ler e comentar. Sabem que adoro isso! Que venham mais textos!
Uau Nicole, lindo texto!
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