quinta-feira, 28 de março de 2013

VAMOS PUBLICAR MEU LIVRO DE CONTOS?





Queridos leitores,

quero agradecer a todos que acompanham os meus textos. Vocês me inspiram e incentivam, aumentando a minha vontade de escrever cada vez mais.

A tecnologia é incrível, a rapidez do on-line me dá respostas sobre o meu trabalho a cada like, cada comentário e cada compartilhamento nos meus textos.

Mas sou escritora, por paixão e graduação, por isso senti que chegou a hora de migrar o meu trabalho para o papel e publicar um livro com a ajuda de quem mais apoiaria a ideia: vocês. Então entrei no Vakinha, um site no estilo crowdfunding, que significa colaboração coletiva, para que esse sonho possa se realizar.

“Nossos Amores Interrompidos” é um livro de contos sobre os amores que por algum motivo tiveram de ser interrompidos, mas ainda não se esgotaram. Para escrevê-lo, estou me inspirando em histórias que vocês, leitores, têm me enviado (fiquem tranquilos, nenhuma história será contada literalmente, nem seus nomes serão expostos).
O lançamento está previsto para o segundo semestre de 2013.

Como colaborar:

·        Entre no site Vakinha, clicando neste link
·        Clique no botão “Contribua Já”;
·        Escolha a forma de pagamento (boleto ou cartão);
·        Escolha o valor com o qual você quer contribuir (quantia mínima: 5 reais);
·        No lançamento do livro, você recebe um exemplar em casa;
·       Toda contribuição é bem-vinda, mas infelizmente só poderei enviar exemplares para contribuições acima de 20 reais, por causa dos custos de impressão, revisão, arte etc.

Quem curtiu a ideia, pode me ajudar a divulgar. ;)

Um beijo ansioso,

Priscila Nicolielo.

quarta-feira, 27 de março de 2013

EU LEIO: PUERIL, DA CLÉO DE PÁRIS



Talvez a atriz brasileira mais bonita que eu já vi. Conheço ela daqui da platéia. Cléo sempre no palco. E sei que fazemos aniversário bem perto, se isso faz duas pessoas terem algo em comum, eu não diria que estão errados. A sensibilidade na escrita E a doçura agressiva na interpretação me fazem debruçar no blog dela. Delicado e sonhador. Os pensamentos da Cléo soltos em terceira pessoa. 

O texto abaixo, se chama Nítida, onde “alguns amores não adoecem”. Adormecem ?


ela tem visitado os velhos suspiros. com ar e cavalos marinhos, que fique
registrado.
é uma moça acostumada a ganhar chapéus e declarações.
tem os olhos no infinito. azul. o infinito e os olhos.
seu tempo desatou a correr em ritmo de can can. ela corre junto! boneca frenesi.
o jardim, todo com orvalho, embrulhado pra presente. embrulhado pra futuro. janelas
e amoras também.
dos pax de deux com a chuva, aprendeu a serenar. e a ficar bem branca sentada no 
banquinho de mármore. bem branco ele também. 
possibilidades, é isso que embala seus sonhos! eles dormem tranquilos feito fadas
de algodão hering. mas alguns, esboçam lantejoulas. sim, descaradamente!
a noite inteirinha refletiu, e ao amanhecer, soltou o cabresto da esperança. "ufa!"
(as duas em uníssono).
e eis que toca o safado telefone: "boa noite, a senhora possui o purificador de água
europa?" não, ela não possuía. possuía esmalte de todos os nomes, vendavais pra lá e pra cá,
mandalas, piruetas, alecrim... mas nada de purificador de água europa. ela possuía
um amontoado de paz e foi o que disse pra moça. e contou que juntou com o tempo, 
tirando as pedras e as pestes do redor e espantando as lágrimas. e a moça do 
purificador: "então boa noite."
ela não consegue matar nada, além de baratas... mas é por isso que desliza. nem se
derrete em exageros, mas em caleidoscópios sim.
ela outra vez, debruçou-se sobre o enfim e viu. viu que alguns amores não adoecem.
e isso pode ser bom! que alguns amores morrem por acidente, ataque cardíaco.
são fracos alguns amores, pobrezinhos... e isso pode ser bom! e que existem
moços tão puros, que ainda conseguem se encantar, viu senhor Enfim?



Gostou do texto? Acompanhe o blog Pueril, da Cléo de Páris.


segunda-feira, 25 de março de 2013

SÓ O (MEU) AMOR ME IMPORTA



   Não conto história alheia não, moça. Só sei desenhar as minhas. Só traduzo o que sofri. Só revivo o que sinto, como quando o meu coração desmontou de tão aguado. De tão abatido. Coração fraco. Você me pede que agrupe palavras para narrar o seu amor, mas eu não sei fazer isso não. Ignoro amores além da janela. Esnobo seus ruídos. Amores tontinhos. Só me interessam os corpos que alcancei e os olhares que perdi. Só há beleza quando sobro. Só há palavras quando meus sonhos se despedem de mim. Ou desaparecem sem telefonema, sem post-it na geladeira. A sua história não comove a minha vontade de popular telas em branco, moça. As suas lágrimas sou incapaz de escutar. Meu caderno é egoísta demais para abrigar amores que não me pertencem. Não me odeie não, moça. Mas é que ultimamente a falta dele tomou conta de todas as minhas páginas. E enquanto meus livros deixam de cheirar a livros, porque cheiram a dias com ele, eu não posso falar de você. Só posso rabiscar por mim. Tentar decifrar o que querem as borrachas, que passam à força por cima das minhas paixões, me obrigando a apagar o que vivo e que está bom. A mentir que não me importo. Que não gosto. Gastando dias inteiros com lembranças. Escondendo carências. Por isso, moça, me entenda. Seu romance é livro na estante. E essa minha tristeza, a única coisa na cabeceira.  

sexta-feira, 22 de março de 2013

LISTA FASHION: AS MARCAS DE ROUPA QUE AMO


Pra quem não sabe, eu sou roteirista de um programa de Moda, o Esquadrão da Moda, do SBT. Isso quer dizer que passo 50% dos meu mês dentro de shoppings e lojas e olhando pros looks incríveis que o Arlindo Grund, a Isabella Fiorentino e a produtora de moda do programa Tâmara Guzman montam. Dá vontade de comprar tudo, mas ficar pobre não está nos meus planos para esta vida. O problema é quando vou gravar em certas lojas, ou melhor, nas minhas preferidas, nem sempre volto sem sacolas pra casa. As marcas são essas abaixo, separei também a peça que mais gostei das coleções atuais, só pra vocês entenderem do que estou falando.

vermelho com verde musgo = amor.

é oficial: voltarei a ser ruiva.

alá o preto e branco a la Chanel bombando!

Branco em mim. Por que, não? 

  • 284 (a loja dá desconto de 15% pra estudantes. veja o lookbook e siga o instagram): 
Divertido!


 E vocês? Ondem compram?

quarta-feira, 20 de março de 2013

EU LEIO: ENTRE TODAS AS COISAS, DO DANIEL BOVOLENTO


A partir de hoje, toda quarta-feira, vou indicar textos e blogs que sempre acompanho. Espero que gostem das minhas dicas. ;)




Daniel Bovolento é meu parceiro no Casal Sem Vergonha. Garoto só na idade, seu texto amadurece a cada dia. Cheio de projetos e vontade, já faz seu barulho na literatura virtual, mas tenho certeza que, com um pouco mais de estrada, vai estar entre os grandes escritores um dia.

Como Ela Sempre Foi é um texto melancólico do jeito que gosto. E pra mim foi uma honra saber que tem um pouco de inspiração nos meus.




Desliza pelas bordas da banheira. Se agarra ao que não era dela. Sai sem toalha pra não glamurizar a cena. Se vê nua em pelo e mesmo assim a vergonha era outra. Abre as janelas da sala e observa o que ele faz no banho. Bota a água pra ferver e sai desfilando pelo décimo andar do apartamento. Merece mais que isso. Sobe num dos saltos novos e vê o mundo de cima. 15 centímetros a mais de lucidez. Pergunta se está tudo bem e se ele quer alguma bebida. Recusa. Como sempre. Rejeição até num gole rápido. Ela bota conhaque pra dois e brinda a sós. Nua. De Salto. Resolve maquiar-se. Borra os olhos a cada lágrima. Os cabelos ainda molhados da banheira. Averigua se as olheiras aparecem ou se parecem levemente forçadas de fuligem como ela pretende que sejam.  Abaixa a fotografia dos pais e desliga o celular. Desfila mais um pouco pelo décimo andar. Maquiada. Nua. De Salto. Não gosta de barulho, mas o silêncio da casa já a perturba há tempos. Mira o espelho e vê que ainda tem alguns poucos pelos pubianos avermelhados. Sorri com um gosto depravado antes de acender um dos cigarros dele. Ele nunca sentiria a falta do vermelho dela. Sufoca um pouco e deixa sair o ar. Em estado efervescente. Evaporando. A chaleira começa a soltar algum vapor e o chiado é tímido. Como o dela. Apesar dos fios de um vermelho chamativo. O gosto do conhaque é forte e desce rasgando sua garganta. Como ele. Pensa se deveria usar um vestido pra ocasião da despedida, mas prefere se agarrar à mesa de jantar e desfilar no alto. Os janelões da sala não têm impressões digitais. Como eles dois. Sem vestígios. Sem fumaça. Sem conhaque. De salto. Nua. Maquiada.
Apita a chaleira e ele já não consegue mais se concentrar na própria distração. Corre para a cozinha e desliga o fogão. No mesmo momento em que ela se desliga dele. Corre os olhos pela sala. Observa o janelão da sala e as marcas de dedos visíveis no vidro. A garrafa aberta. O conhaque esparramado. As marcas de salto na madeira da mesa. Um baque surdo. Era tudo o que ela tinha sido durante esse tempo todo. Omitida pelo chiado de uma chaleira. Ele não ouviu nada. Mas essa era, certamente, a primeira vez em que ele a via. Sem vestígios. Sem fumaça. Sem conhaque. Como eles dois. De salto. Nua. Maquiada. Do alto do décimo andar. Em uma pose caricata no chão. Envolta num vermelho escarlate. Como ela era. E podia jurar que a boca imóvel dela esboçava um sorriso malicioso enquanto os pedestres se chocavam com a queda voluntária.


Gostou? Leia o Entre Todas As Coisas, blog do Daniel Bovolento ou siga ele no tuíter

terça-feira, 19 de março de 2013

É PIQUE! É PIQUE! É UMA PORÇÃO DE PIQUE!


Dia de arremessar desejos e me lembrar que toda vez a mãe puxa a orelha de acordo com a idade. Temo ficar com o lóbulo da direita maior que o da esquerda.
É quando a nona e a tia Paola ligam às seis da manhã para serem as primeiras a falar comigo. Em seguida a tia Dina, a quem faço acreditar ter sido o meu único telefonema até o momento. 
Dia de ganhar o bolo de brigadeiro da tia Dulce. De pensar que o presente do irmão caçula vai chegar alguns dias atrasados, pelos Correios. Dia de saudade.
E pensar que sempre chove. Eu olhando de dentro do carro o shopping center cheio de gotas de água, ansiosa pelo presente que o bolso do pai pode comprar.
Dia de não saber quem vem. A insegurança de uma festa vazia como o meu porta-moedas. Aniversário é como estrear peça de teatro. Será que ele vem? Qual desculpa ela vai inventar. Vai caber todo mundo? Quero cancelar tudo! Não. Eles virão. Eu acho.
Dia do coração sambar a cada ligação. Quem lembra? Quem é de felicitar ainda por telefone? Mensagens de celular estão cada vez mais raras. Frases no facebook apenas para não passar em branco. Aceito tudo, não se preocupem. De pombo-correio a presentes virtuais. Como essas fotofrases, que pedi às minhas leitoras com a minha cara de pau e que fui recebendo por esses dias. Obrigada a todos que registraram um pouco de mim na vida de vocês.

Feliz Aniversário!
por Thamy Silvia


por Carolina Nunes

por Beatriz Luna

Mariene Baccarin, da página Gotas de Emoção

por Thamy Silvia

por Liliane Chagas
Por Cíntia Rosini
por Rafaela Freitas

por Aline Di Giacomo

por Adriana Brunstein

por Cintia Rosini

por Pedro Augusto

por Dannie Karam

por Fábio da Luz

por Vanessa Monho

domingo, 17 de março de 2013

O VESTIDO E O VENTO MALICIOSO DA CIDADE

ou

Ela desce a rua.


foto retirada do site weheartit.com


   Ela desce a rua como se. Não encara o céu. Ignora olhares e quase sempre tropeça. Buzinas. Os semáforos piscam. Os carros escorregam pela avenida que parece viver entupida de estresse. Ela tem um vestido que se espreguiça sempre que um vento assopra. Uma espécie fajuta e romântica e mais colorida de uma Marilyn Monroe vulnerável. A cada esquina, um amor acena. Aquela festa com quatro pessoas e um amasso no elevador vermelho e charmoso. A janela do apartamento em que ele morava, num prédio sem vida, incomodado frequentemente pela cidade acordando, pela cidade se divertindo, pela cidade voltando pra casa acelerada de tanta bebida ou pó, desafiando os radares, os pedestres e a conta bancária magra  e  farta de multas.

   Ela desce a rua como se precisasse chegar a algum lugar. Nunca se perguntou o que quer. Apenas vive. Desliza nos seus dias sem controle.

   Ela desce, o vestido repete a estripulia. As mãos dela, carregando unhas pintadas de azul claro como daquela vez em seu aniversário, vetam o tecido. Ele enfrenta. Provoca. Ordena. O vento como aliado. Ao redor, as pessoas se divertem, apenas uma mendiga se posta indiferente e grita alguns palavrões para si enquanto organiza o seu papelão na porta de uma loja falida.

   Ela não precisa chegar a lugar nenhum. Ela não precisa chegar. Ela só precisa relaxar. Talvez alcance algum lugar assim. E então, como em uma coreografia, seus fios de cabelo, suas mãos e a saia do vestido se libertam. Evaporam. Deixam o vento guiar. 

   Ela desce a rua dançando com o vento malicioso. Aonde pretendem aterrissar?

quinta-feira, 14 de março de 2013

LISTOMANÍACA

Hoje começa uma sessão nova aqui no blog!

As listas. Quem me lembrou que eu sempre quis fazer uma sessão dessas no blog, foi a minha amiga Roberta, e assim como ela, talvez eu precise fazer uma lista pra me lembrar que preciso fazer listas.



Eu sou maníaca por listas. Só fui me dar conta neste ano, durante um curso do Carpinejar. Na hora da apresentação, ele pediu que os alunos falasse, além do nome, uma tara. Eu poderia ter dito beijo na nuca, mas não, confessei a minha loucura por listas. O Carpinejar foi incisivo: Você  não gosta de listas, gosta de se frustar, porque as listas nunca acabam Mas isso é assunto pra outro momento (talvez parta uma próxima lista com as minhas maiores frustrações?).

Eu escrevo listas dos programas que devo baixar na internet, listas dos médicos que tenho de marcar, das peças de roupa que gostaria de comprar e até de quantos parágrafos eu tenho de escrever por dia para finalizar uma coluna pro Casal Sem Vergonha.

Pronto. Já podem rir de mim ou, pra quem é humorada, mandar sugestões de listas pro meu e-mail. Vou adorar receber. (Também faço listas de e-mails que tenho de mandar).

Bem-vindos às minhas neuras.


5 séries de tv que você não pode deixar de ver:

  • Criminal Minds #policial #serialkiller (amor verdadeiro, amor eterno),
  • Once Upon a Time ou Era Uma Vez #drama #contosdefadas (a minha nova menina dos olhos),
  • The Borgias #drama #história (já que o assunto da semana foi o Papa latino, talvez o mais sanguinário),
  • Lei E Ordem SVU #policial #pedofilia (não está no ar por tanto tempo à toa)
  • Dexter #policial #serialkiller (tão bom que torcemos pro vilão sem culpa)



E vocês? Têm séries preferidas?


DIA DA POESIA


terça-feira, 12 de março de 2013

SÓ PODEMOS TORCER PRA UM TIME?


O dia mais confuso da minha vida foi agorinha, essa quarta-feira. Tive o pensamento encaracolado por causa de uma partida de futebol decisiva. Não tão importante para o campeonato, quanto pra mim.

Nasci em Lins, conhece? É uma cidade pequena e quente, do interior de São Paulo, rodeada por outras cidades menores e igualmente quentes. Simpática a minha Lins. Ainda bebê, minúscula mesmo, vim tentar a vida na capital. Me meteram numa fralda do Palmeiras  e enfrentamos, pai, mãe e neném verde, 444 quilômetros de estrada.

Apesar da fralda, eu não era bem uma palmeirense. Quer dizer, meu pai se aproveitou da inexperiência dos meus três meses de vida, para registrar momentos de uma mini torcedora que até hoje não existo. Resultado: Fotografias puxadas pro marrom, com bordinhas arredondadas e a data no cantinho: junho/81, provas irrefutáveis da minha escolha pelo Verdão. Você jogou sujo, pai.

Não tão sujo quanto a minha boca de sorvete, naquela tarde, há muito tempo, quando eu pisei no Gilbertão, o estádio de Lins, minha primeira e única vez num estádio. O vô Tito tinha me comprado um picolé de milho-verde - o meu preferido de pequena - do carrinho que um senhor guiava todas as tardes, tocando uma gaitinha pra direita e pra esquerda. Você se lembra desse som? Pra lá e pra cá. O gramado do campo tinha falhas e não sei muito bem se estávamos lá - eu e meus irmãos - por causa de uma pelada ou de espaço para empinarmos nossas pipas, encharcadas de cerol na linha.

Se for por recordações, por deliciosas recordações, grito Vai Linense! Mas o Palmeiras. O Palmeiras é quase segunda pele, você me entende? Eu olho pro meu álbum de fotos de bebê e me convenço Porco Oô Porco Oô Porco Oô Oô Oô. Fora que eu fico bem de verde. No duro, fico mesmo. Tenho muitos vestidos dessa cor.

Então nessa quarta-feira, uma questão entrou em campo. Lá em Lins, numa noite inevitavelmente abafada, protegidos pelo céu mais limpo que eu conheço, jogadores se esparramavam pelo gramado do Gilbertão: os jogadores da casa, nós linenses, e os jogadores de fora, nós palmeirenses.

Pra quem eu deveria torcer?

Eu não torço, você sabe. Pra nada. Só torço pra um aumento no meu salário. Pro meu cartão de crédito passar na próxima compra. Pra fazer sol no final de semana. Pro meu cabelo não cair com a tintura. Pro novo filme do Woody Allen sair logo. Pequenos prazeres.

Mas caso me sentasse na frente de uma TV sintonizada no jogo, caso tivesse paciência pra assistir a um jogo, como escolher entre o time da cidade que nasci e voltei por anos para comemorar o Natal e a Páscoa e o time, cujo símbolo enfeitou meu primeiro figurino, a fraldinha? Seria como ter uma resposta para aquela pergunta sacana que te fazem no Jardim da Infância: você gosta mais do seu pai ou da sua mãe? Talvez, se eu tivesse uma luz pra essa questão, decidir entre o Linense e o Palmeiras seria menos desgastante. Mesmo que essa escolha só tenha me amargurado por quatro segundos da vida. Os quatro segundos mais enroscados que já conheci. Fico com os dois: meu pai e minha mãe.

Leia a coluna no site do Terceiro Tempo.

Futebol me deixa em coma


Eu tenho um problema sério com futebol. A atenção que dou pra ele é como uma bola num tiro de meta que alguém chuta pra outro bairro. Por isso eu só acordei depois do golaço. Num susto. O meu pai comemorando. Eu não tava dormindo. Eu não tava nem na cama. Eu tava na sala, exatamente como meu pai. Sentada no sofá, exatamente como meu pai. Na frente da televisão, exatamente como meu pai. E como eu consegui perder um gol daqueles? Onde a minha cabeça tava? Como eu driblei uma TV 42 polegadas gritando na minha frente?

Foi gol de quem, pai? Do Fernandão. E o Fernandão seria de qual time? O Fernandão é nosso, Priscila! Ah. Ele riu, porque meu pai passou da fase de me reprovar. Isso acontecia só quando eu tinha seis anos e perguntava se tal palavra era um palavrão. Sempre era.

Não consigo me envolver com um jogo por mais de. Deixa eu pensar. Acho que 15 segundos é o meu limite de dedicação a uma partida. O estranho é que eu sou uma garota bem normal. Quer dizer, eu me acho normal. Costumo tropeçar em mim mesma sempre que olho pra um rapaz do outro lado da rua. Em festas de família, roubo o brigadeiro antes do Parabéns – sem levar impedimento da Tia Dulce. Marco faltas quando danço na pista, onde cigarros e cervejas atacam qualquer um - não é jogo de corpo, é falta de educação das pessoas mesmo e eu revido, já que não existe juiz pra me amarelar ou expulsar.

Minha mãe nunca mencionou eu ter batido a cabeça quando criança ou ter me decepcionado com uma disputa, a ponto de justificar o estado vegetal em que fico no meio de um jogo. É sem querer. Apago. Entro em coma. Sou abduzida por um E.T. de Varginha, que me visita nas tardes de domingo e me leva pro shopping, sei lá. Sou hipnotizada. É isso, o futebol me hipnotiza. Estou na sala, de frente pra TV e de repente vou dormindo, vou dormindo, vou dormindo e aterrisso num lugar diferente e mais gostoso do que o campo. No trânsito de São Paulo, às seis da tarde, por exemplo. Aí, quando me dou conta, o zagueiro já está dançando Ai, Se Eu Te Pego pra torcida.

Será que eu também dormiria num estádio? Confesso nunca ter sentado numa arquibancada para assistir a uma disputa. E não é porque odeio o esporte. É porque não faz a menor diferença na minha vida. Se eu penso em futebol, no segundo seguinte já troco pelo brigadeiro da festinha da Tia Dulce que tá na geladeira, implorando pela minha mordida.

Hoje assisti na TV a um programa de esportes e só me lembro do funk que sonorizou a matéria. Mentira. Também não esqueço a calça que o apresentador usou. Jeans clara. Com isso concluo que, além de futebol, também perco a consciência com programas de futebol. Meu caso é médico. Talvez sofra de Insensibilidade Congênita ao Futebol. Vamos respeitar, por favor.

Esse pode ser o motivo para eu estar solteira e destinada ao sofá numa tarde de domingo pensando no brigadeiro da Tia Dulce. Só pode ser. Meus assuntos não têm testosterona. Sempre ficarei de escanteio numa conversa com rapazes. Precisarei apelar constantemente para o clichê da jogada de cabelo ou alguma frase bonita que li por aí – isso sempre tem um quê de espontâneo e encantador. Estou fadada ao brilho apenas em rodinhas femininas. Ao chuveiro. Estou completamente fora de campo.

Leia a coluna no site do Terceiro Tempo.

Quem manda no humor do escritório é o desempenho do time.


Seria uma boa segunda-feira, não fosse a tragédia do domingo.

O sol protagonizava bons momentos no céu, driblando nuvens adversárias. O trânsito fluía sem rivalidade. Meu tanque, amarrotado de gasolina, parecia gritar Gol de tão eufórico.

E no rádio eu ouvia um CD só com os clássicos da Roxette. Entende? Eu tinha uma prévia bem satisfatória da minha segundona, não fosse ontem. Ontem, quando os caras bebiam cerveja com os olhos grudados na televisão do bar, ou de casa mesmo.

Ou nem bebiam, porque já suavam amontoados nas arquibancadas dos estádios. Domingo, quando eles gritavam Chupa, Juiz ladrão, Impedimento de c... é r...

Quando a bola não tocava em rede inimiga.

Quando o desespero esfaqueava cada coração corintiano e eu, sei lá, devia estar lendo uma revista, constantemente interrompida por rojões e vuvuzelas – porte de vuvuzela ainda não dá cadeia?

Apesar de manter uma vida bem distante das partidas de futebol, é impossível ignorar o fim de um jogo. É impossível ignorar uma derrota corintiana. A rua onde moro, contaminada por palmeirenses, grita Chupa Corinthians. Meu irmão manda mensagens provocativas a todos os amigos gaviões.

Os carros buzinam eufóricos como se comemorassem a aprovação na Inspeção Veicular. É difícil fazer vistas grossas a tanto show. No meu caso, absorvida a informação (tá, o Corinthians perdeu) sempre volto pra revista.

Aquela tinha tudo pra ser uma segunda-feira agradável, mas.

Chegando ao trabalho, a sala da redação estava fria por causa do ar-condicionado. Não, não era só o ar-condicionado. Era um frio diferente. Um frio quase. O meu Bom Dia foi ignorado.

O tipo de frio que implora por calor humano. A minha saia não fomentou um comentário mais engraçadinho. Ainda arrisquei uma piada meia hora depois e fracassei.

Nem respiravam. A manhã correu silenciosa, como a Bahia deveria ser fora de temporada, até que.

Eu não me lembro do nome dele. Sei que usava a camisa do Palmeiras. Aquela fluorescente. E a voz dele trincou a camada de gelo da sala com um Três a Zero! que entrou ricocheteando todos os corintianos – ou seja, a maioria dos homens da sala - que fez a minha ficha, de pessoa indiferente ao futebol, cair.

Finalmente bocas se abriram culpando juiz, bandeirinhas, faltas negadas, pênaltis injustos e jogo comprado. Na minha opinião, o texto na manga de todo torcedor com o coração ferido por um resultado desastroso. O humor dos meus colegas de sala era diretamente influenciado pelo desempenho do time.

Para um cara isso soa bastante óbvio, mas não pra maioria das mulheres que não liga muito pro futebol, como eu. Nunca vi mau humor feminino porque a vilã se safou no final da novela das oito, entende?

Se quisesse continuar a trabalhar com fanáticos corintianos, eu teria de respeitar a ressaca da derrota. Não que eu entenda essa dor. Só pego mau humor quando tenho a conta negativa ou um relacionamento sem perspectiva.

Me concentrei com dedicação para evitar palavras e pensamentos que pudessem provocar ataques de ira durante aquela tarde. Fanáticos estão sempre esperando ser provocados – mesmo que de brincadeira – por uma desconhecedora do assunto e assim descarregar toda a raiva do insucesso em campo.

Passei a torcer pela vitória do Timão. Era isso ou trabalhar em um biblioteca entupida de funcionários públicos toda segunda-feira. Entende?

Leia a coluna no site do Terceiro Tempo.

O prazer de gritar Chupa!


Eu não era de falar sacanagem de graça. Não que me pagassem pra falar sacanagem. Acontece que eu não via propósito em dizer “Senta Aqui” ou “Pega Aqui” sempre que alguém me irritava. Cresci com a minha mãe me proibindo de falar palavrão em casa, porque era coisa de gente mal educada. E aí, um dia numa excursão de colégio, falei um Puta Merda! bem alto e um garoto, que eu achava uma graça, me olhou tão feio. Deve se deitar na cama de meias na companhia de uma mulher, aquele recalcado.

Aí, veio essa moda de Chupa Corinthians!, Chupa Bambi!, Chupa Felipão! Expressão excelente, mas que na minha opinião só ornava com futebol, com a boca bem cheia de raiva e glória. Eu ficava meio chateada. Poxa, o povo todo aí se lambuzando com o Chupa!, e eu aqui postando fotos no Instagram. Mas, sei lá, fora do contexto pareceria que eu tava convidando as pessoas pra alguma bobaginha. Eu ainda tava com medo de me entregar. Tipo a voz da mãe falando na nossa cabeça que isso é coisa muito feia de se dizer. De pequena, sorvete eu não chupava. Eu tomava, atitude de uma menininha com modos. Mas o Chupa! Eu tava quase chegando lá. Ele escapava pela minha garganta. Não demoraria muito pra eu.

Foi no meu apartamento. Sozinha. De ressaca. Como todos os sábados e domingos da minha vida nos últimos dez anos. A TV a cabo tava um lixo, mesmo assim achei The Next America’s Top Model, aquele reality show das meninas que querem ser modelos. A minha energia só tinha conseguido me cozinhar um miojo sabor churrasco, que jurei pela minha mãe morta nunca mais comprar - tenho certeza de que fiz a coisa certa. O jogo do Palmeiras e Goiás tava rolando na televisão. Palmeiras sendo humilhado. Não, eu não tava assistindo ao jogo. No Brasil, você sabe, basta morar perto de janelas pra saber como vai uma partida. Era um tal dos vizinhos dos prédios gritarem Chupa, Porco!, que foi me deixando incomodada.

Pausa para perguntar pela trecentésima vigésima sexta vez: por que assistir a um jogo de um time que nem é seu? Eu sou de São Paulo e sei que ninguém lá torce pro Goiás. Alô.

Voltando. Não sou torcedora. Mas quando nasci, me disseram: E você se chamará Priscila e será palmeirense. Só cumpri a primeira das ordens, mas não posso ignorar totalmente uma herança familiar. Seria mau-caratismo. Eu pulei do seriado das modelos pro jogo com o sangue fervente. Fiquei uns dez minutos torcendo pro Goiás, antes de perceber que eles tavam de verde e o Palmeiras, de branco. Resolvida a gafe, me concentrei na bola, achando que meu olhar biônico pudesse enfiá-la no gol do time adversário.

GOOOOOOL!

Do Palmeiras - foi o meu olhar biônico, certeza. Corri pra janela, escancarei a boca e gritei com vontade. Nunca o verbo chupar foi tão bem colocado. O fato de terem me devolvido com as piores ofensas que uma garota pode receber, nem me causou remorso. Gritar Chupa! emagrece. Porque não foi pros torcedores do Goiás, nem pros jogadores e toda a equipe. Eu gritei Chupa! pra toda vez que tive de engolir afrontas, em vez de cuspir uma resposta. Gritei Chupa! pro garoto do colégio que me recriminou por eu ter proferido um Puta Merda! diante da santa imagem dele e pra outras caras tão fresquinhos como esse. Gritei Chupa! até pra Tyra Banks que nem sempre faz a melhor escolha na eliminação das modelos. Eu gritei Chupa! pelo direito de falar que eu quero chupar um sorvete, em vez de tomar um sorvete. É só uma palavra. Dissílaba. Recomendo para menores de 18 anos. Gritem sem moderação.

Leia a coluna no site do Terceiro Tempo.

PERDI UMA APOSTA E TIVE DE VER FUTEBOL NA TV


Tudo começou com a aposta idiota que fiz com um amigo. Se ele enfiasse uma
moeda no cofrinho do cara, que pulava da calça jeans, eu assistiria a um
jogo de futebol pela TV. Nenhum esforço pra quem gosta do esporte, o que
nunca foi o meu caso. Perdi a aposta e o amigo cobrou. Era isso ou pagar em
dinheiro. Como ando meio dura, prometi presença na sala de TV durante o
próximo jogo.

Aproveitei a única coisa que me faria parar na frente de uma TV para me
concentrar num jogo de futebol, que aconteceu numa quarta-feira. Eu tenho um
irmão que mora fora do estado de São Paulo, mas continua palmeirense. Fui
recebida em casa com uma ligação do meu pai, que já tinha preparado a pipoca
e avisava que o irmão desertor estaria na arquibancada do jogo do Palmeiras,
que aconteceria na cidade dele. Jogo televisionado! Eu não podia perder.
Vejo o meu irmão tão pouco, que torcer por um segundo dele numa tela plana,
seria um bom incentivo para aguentar o jogo e pagar a aposta.

Estar na televisão dá a quem te assiste uma intimidade chata quase familiar,
mesmo que o fulano só tenha te visto uma vez na padaria . Deve ser difícil a
fama!

Antes do jogo, dei uma passada no computador, precisava finalizar um texto.
Não sei vocês, mas quando estou bem empolgada com alguma coisa, sou capaz de
ficar horas lapidando, desconstruindo, encaixando, apagando. Horas. E aquela
quarta-feira não foi diferente. Horas. Terminei perto da meia noite, o
telefone gritando se eu tinha visto o meu irmão e o sobrinho na TV. (O
sobrinho também?) Perdi um momento familiar e não paguei a aposta, mas
respondi que sim, ao pai e ao amigo. Não gostaria que continuassem a me
rotular como uma pessoa que não se envolve com futebol e família. Afinal,
que tipo de irmã e brasileira eu sou? Falsificada. Made in China. Eu não
precisava de mais broncas.
Pode ser o nosso segredinho, leitor? Se você guardar como se fosse seu,
prometo ver o jogo do próximo domingo. Quer apostar?

Leia a coluna no site do terceiro tempo.

CERVEJA PRA ACOMPANHAR O JOGO: LEVANTE E PEGUE A SUA


Eu não acho justo que alguém peça pra parar o que estou fazendo - e aí, amigo, pode ser  embaixadinha, miojo, unhas ou sudoku - pra satisfazer seu desejo.

Batíamos uma bola, eu e um amigo. Falávamos daqueles que empataram nossas vidas e dos que foram artilheiros, quando meu irmão interrompeu da janela e gritou por mim. Pediu cerveja. Eu achei bem injusto, vindo de uma pessoa em perfeitas condições físicas, que quebrou a clavícula duas vezes, mas foi há tanto tempo que nem se nota. Uma pessoa que sabe o caminho para a cozinha. Uma pessoa com acesso livre à geladeira, a morada de toda cerveja com vergonha na cara.

Se até o Homer Simpson caça uma cerveja Duff sozinho, meu irmão também seria capaz. Eu já deixei a TV e o sofá pra abrir a geladeira em situações muito mais importantes, do que um jogo de futebol: o filme do Ryan Gosling, que tem tudo a ver com o bolo de brigadeiro da tia Dulce.

Sou muito ansiosa e tenho uma necessidade estranha de responder logo a uma pergunta. Quando eu termino a resposta, a pessoa ainda está perguntando. É feio, eu sei. Mas é incontrolável. Por conta disso, a minha primeira resposta é sempre Não. Se eu digo Sim, desse jeito apressado que tenho, posso me arrepender na sequência. Vai que é um convite pro jogo do Corinthians.

Um Não bem redondo foi o que eu disse pro meu irmão, que tem duas pernas perfeitas e dois braços perfeitos, graças a Deus. Não vou pegar a cerveja pra você, seu, seu garoto perfeito!

Ele sempre foi assim, tinha preguiça até de se levantar da cama pra apagar a luz do quarto antes de dormir. Berrava o meu nome, pra me atrair pra perto do interruptor, e conseguia. Eu caía sempre. Com raiva, largava ele sozinho no quarto ainda iluminado, pra ele mesmo realizar a tarefa. Meu irmão passava os minutos antes de dormir tentando acertar o botão com chinelos e chuteiras e fitas de videogame. Mas nunca. Nunca se levantava da cama.

A cerveja que eu neguei deixaria o jogo de futebol mais divertido. Na minha opinião, só assim pra ver algum sabor nesse esporte. Descubro que o jogo na TV é do Corinthians. Meu irmão me fez parar tudo o que eu estava fazendo, porque precisava prestar atenção no jogo do Corinthians. Do Corinthians. Ele é pal-mei-ren-se. Silêncio. Eu sei que você achou normal, mas eu nunca vou entender essa necessidade de ver os outros times em campo. Ler algum site no dia seguinte pra saber o resultado não basta?

Por que ele não podia descolar os olhos da TV? Jogadores não marcam gols quando tem torcedor de costas. Fiquem tranquilos, é lenda. Se bem que numa Copa saí dois minutinhos pra fazer xixi e o Brasil tomou um golaço, que resultou na eliminação.  Me culpo até hoje.

Trinta segundos depois da minha negação, já estou sufocada de arrependimento. Eu sempre me arrependo por ser chata. Mas me arrepender por ser chata, não me faz deixar de ser chata, logo não devo me arrepender tanto assim. Aí, a chata arrependida vai pra geladeira e pega três - não uma, não duas, mas três - cervejas geladas. Levo um baldinho com gelos também, porque afinal. Eu entrego as cervejas resmungando baixinho, com a cara bem franzida. Tem horas em que a gente tem de se impor. Ele vai perceber que foi folgado, como na fase em que não apagava a luz com as mãos. Meu irmão abre a primeira garrafa sem me notar. Sem me agradecer. Decido preparar um cu-de-burro, porque tomar cerveja em casa sem o limãozinho com sal não tem graça. Ele abre a segunda e ainda não me enxerga. Se eu desmaiar na frente da TV agora, ele jogaria meu corpo pra um cantinho sem tirar os olhos da tela. Penso em falar alguma coisa, mas ele não escutaria. Antes que abra a terceira cerveja, digo que se quiser mais, é só pedir. Que deixei duas pra ele trincando no freezer. Ele agradece com um ruído. Eu acho.

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Vai, Curíntia, perder a virgindade!



Quando meu pai me ligou, eu jamais pensei que fosse me fazer um pedido daqueles. Ele não é de telefone. Todos as broncas e problemas e dúvidas e cobranças ele estapeia por emails curtos, calçados com uma assinatura impessoal: o nome completo – o que nunca achei carinhoso para uma filha. Então quando meu celular se contorceu em cima da mesa, eu tive certeza de que seria algo sério, como aquelas ligações que acontecem antes das dez da manhã e depois das dez da noite, principalmente nas madrugadas. É sempre morte. (bate na madeira)

Ainda era manhã, mas eu já recebia piadinhas, mantras, orações, energias (positivas e negativas) por todos os buracos em que as pessoas podem me localizar: facebook, twitter, telefone, email, porta da minha sala, correio elegante. O jornal, o corredor da firma, as ruas, o Brasil só tinham um tema: a perda do cabaço corintiano, sua estreia nos lençóis verdes da Libertadores.

Um espermatozoide já se enfiava na minha cabeça desde o café-da-manhã, quando me agarrei com inúmeras matérias sobre a primeira vez do timão, seus jogadores e conquistas, previsões de resultado. Apesar do ódio aos corintianos - cultivado graças a um garotinho do meu prédio, que vivia enfiado dentro de uma camiseta alvinegra e que catarrava na minha cabeça, porque eu era branquela e, como qualquer garotinha loira do primário, que usa cor-de-rosa, apelidada de Maria Joaquina, devia ser mesmo insuportável – eu queria mesmo era torcer pro.

Vem pra casa! Vamos torcer pro Boca!

Meu pai cortou minhas fantasias. Boca? Argentinos? Não tenho nada contra eles, isso é coisa de homem. Mulheres amam os argentinos e seus mullets e o sotaque de galã enrolador. Mas.

Eu teria coragem de pular a cerca com o Corinthians?

Sempre gostei de fazer parte da bagunça, resquícios de uma carência adolescente: nunca fui popular no colégio. E nunca seria, com o meu currículo: boa aluna, beijei tarde, era alvo de tiros de salgadinhos no recreio, não me convidavam pras festas badaladas de quinze anos e no time de handebol eu era goleira - nerds são proibidos de desejar posições de ataque. Eu estava na bagunça. No metrô, entupido de torcedores excitados. Flertei com a animação alvinegra. Sorri aos grupos, como se desejando boa sorte.

Vai, Curíntia! espirrava por todos os orifícios do país. Pensei num negócio: Danço o Tchu Tcha de cinta-liga na Avenida Paulista se nenhum gambá gritou Vai, Curíntia! transando com alguém. As musiquinhas também animavam. Me lembrei do primário, quando tinha gincana no colégio e, por algum motivo, eu era sempre da equipe vermelha - ainda bem, o amarelo não me realça. É nostálgico observar pessoas vestidas iguais, cantando frases infantis sobre vitória. Quase dá vontade de entrar nessa suruba, apesar do respeito à família palmeirense.

Em casa, a TV ligada no jogo e eu, no frango à passarinho e na cerveja. De vez em quando bisbilhotando a performance das pernas masculinas. De vez em quando.

Dois gols que me arrancaram um suspiro de prazer. Cuidei para que me pai não me flagrasse no ato, traindo a família.

No final da noite, o Ano Novo no Brasil. Fogos de artifícios ejaculando no céu. Buzinas metendo no silêncio da madrugada. Torcedores urrando de emoção: a perda do cabacinho da torcida mais fiel que existe. Vai, Curíntia!


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Tem misericórdia de mim, torcedor!


De camisola e já debaixo do cobertor, abençoada pelo escuro do quarto, rezei baixinho: Pai Nosso que estais ligado na Libertadores, dai silêncio às comemorações ou surdez aos meus ouvidos mortos de sono, durante esta sagrada Semifinal. Livrai-me de acordar com os gols. Amém.

Não sei se fui mordida pela mosca do sono, se tenho jantado feijoada ou trabalhado demais. Acontece que tenho dormido intensamente, desmaiado numa cama que mais parece a manjedoura quentinha do menino Jesus; e que me abraça como mãe. Tenho certeza que tu, leitor, pessoa normal, és feliz até com cinco, seis, sete horinhas de sono. Eu preciso de doze para ressuscitar animada. Invejo-te.

Meu sono tem me encurralado durante as vinte e quatro horas do dia. Não há litro de café salvador. Sinto-me uma pastorinha a ouvir carneiros, em vez do barulho da minha cidade, que é quase a insuportável estridulação dos gafanhotos em um ataque. Um carneiro, dois carneiros e não chego nem no terceiro, já estou sonhando.

Por isso eu rogo, torcedor, não estoures os rojões perto do meu quarto, quando ganhar esse jogo. Não urres pelas ruas. Não inventes partidas de futebol nessa madrugada, porque não quero acordar com o grito da minha janela espatifando. Comemora a vitória dentro de um copo, dum carro, duma sala abafada por embalagens de ovos. Espalha a alegria por mensagens de texto. Benditos seriam os balões, não fossem perigosos. O silêncio, eu te suplico.

Acordei como se não houvesse desafiado uma noite de quarta-feira. Dormi como anjo. Atravessei um mar vivo, escandaloso de gols e fúria; e sobrevivi. Concebi doze horas de sono contra as sete que costumo parir, em toda madrugada de decisões importantes no gramado.

Não me crucifiques, torcedor, pelo meu pecado. Violei um importante mandamento brasileiro: ignorar o caderno de esportes no dia seguinte. Qual dos times atingiu o Paraíso? Não caio em tentação de cobiçar conteúdo futebolístico. Eu, a ovelha negra de um país que idolatra o futebol. A filha desertora. Perdoa, Pai.



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Minha Primeira Vez No Estádio De Futebol


Assim que a notícia correu pelos fios telefônicos da minha família, o meu celular se entupiu de mensagens decepcionadas. Como uma garota, fruto de uma família italiana e palmeirense, daria o privilégio da sua estreia num estádio a um jogo do Timão? Ignorei todas.

Esperei passar dos 30 anos de idade para assistir ao meu primeiro jogo de futebol no estádio. Estudei ao lado do Pacaembu e nunca perdi três passinhos para que nos apresentássemos. Então, quando um amigo me convidou para desfrutar de uma partida, mesmo que da arquibancada corintiana - depois de negar, aceitar, pensar, desistir, confirmar de novo, cancelar - eu topei.

Por recomendação do amigo, eu deveria escolher uma roupa que não fosse verde nem tão agarrada, já que o futebol é um esporte com exagerados níveis de testosterona. Fui de top cinza, quase agarrado, quase solto, apenas sugerindo meus contornos físicos. Afinal, qual a graça de parecer um menino num local saturado deles?

Sempre vidrei com cachorros-quentes perfumando as arquibancadas das partidas de baseball, que eu via em seriados norte-americanos; e quando eu percebi a bandeja chegando pensei que futebol no estádio era melhor do que eu pensava. Mas o cachorro-quente era tão seco que comer farinha era a mesma coisa. Minha esperança ressuscitou ao avistar copos de cerveja flutuando em minha direção. No primeiro gole, a falta de álcool. Cerveja que não sobe, não precisa ser tomada. Prefiro Fanta Uva e o meu lar, onde meu pai frita asinhas de frango e a cerveja agita até uma partida desanimada como aquela.

Frustrada com o menu, resolvi espiar o jogo. Não desviei mais os olhos do gramado, porque existiam chuteiras. Extravagantes, coloridas, fluorescentes. A bola podia ser fluorescente também, ia ficar mais didático para uma iniciante nos estádios como eu, já que em muitos momentos ela se camuflava no campo. Para mim havia apenas chuteiras pink se esfregando na grama verde. Se alguém me disser que tocam o hino do time quando são responsáveis por um gol, não duvidarei.

Pra matar o meu tédio, o Corinthians fez o favor de marcar um gol. Não vivi o momento, porque o meu celular se recusava a ligar a câmera em modo vídeo. Felizmente deu tempo de registrar o gol. Até hoje não revi. Fica pra outro dia. Fica pra outro ano. Fica pra quando eu beber de verdade e precisar provar, no meio da histeria do bar, que, embora não pareça, já fui a um jogo de futebol.

Saí de lá carente de bebida e outras feminices. Sentei num bar qualquer e pedi a o drinque mais colorido, como as chuteiras dos jogadores, e de nome rococó. Beberiquei enquanto selecionava, pelo celular, looks em um aplicativo de moda. Looks montados com a cor preta e a branca, pra comemorar a vitória da Fiel do meu jeito.

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O dia em que torci pro Palmeiras no meio da Fiel


Sou mais macho que muito homem. Ou mal-educada. Ou uma doida. Vocês decidem, leitores.
Não sei por que me meti no estádio em um jogo do Corinthians. Foi no ano passado, diziam que o mundo ia acabar, então quis viver algo inédito, que pudesse fazer parte do filme que passaria na minha cabeça nos minutos finais da vida. O mundo não acabou e essa história pode ser divida com vocês.

Acontece que o Palmeiras, time da minha família (esquecido em algum bolso das minhas prioridades, como aquela nota de dois reais que você acha de vez em quando e se lembra que a calça estava parada há pelo menos dois meses no guarda-roupa) jogava em outra cidade, no mesmo horário do jogo do timão prestigiado por mim. A minha ignorância esportiva aprendeu naquele dia que os gols de outros jogos que estão acontecendo simultaneamente no Brasil são transmitidos nos estádios durante as partidas. Já posso andar uma casinha no tabuleiro do futebol.

Algumas semanas antes da minha visita ao estádio, um gringo, que assistia ao Corinthians na arquibancada, tinha sido expulso pelos gaviões, porque o pobre desavisado usava verde, cor sentenciada de morte, se plantada no meio da Fiel. Vai vendo.

Eu estava lá a paisana, nem de verde, nem de preto-e-branco. Escolhi azul-marinho. Completamente invisível aos olhares da fúria alvinegra. O jogo estava chato, um zero a zero de dar sono, e eu me pegava distraída, muitas vezes focando a menininha sentada ao meu lado, que acompanhava o pai e se vestiu de rosa da sandalinha ao arquinho na cabeça. Outras vezes admirando as nuvens que se encardiam em cima da minha cabeça, anunciando chuva. Sempre assim. São Pedro só trabalha quando estamos ao ar livre ou de sexta-feira, às seis da tarde. Adeus, cabelo arrumado.

Um som anunciou um gol fora do estádio, fora da cidade. Palmeiras, o time a quem devo respeito (amor e fidelidade são outros quinhentos), tinha marcado em cima de algum time, do qual não me lembro o nome por motivos de: não me interessa saber.

- Gooooooooooool! Gritei, por impulso e ingenuidade. Berrei, celebrei, festejei e dancei o Tchu Tcha Tcha no meio de machos emputecidos com um zero a zero monótono, esquecendo um detalhe pomposo, o lugar em que estava. Eu, um ponto azul-marinho e loiro no meio de uma torcida que abusa do preto-e-branco, como se fosse uma releitura mais rústica da marca Chanel.

Meu amigo corintiano, que estava comigo, deixou vazar perplexidade, um sinal do meu breve linchamento.

Em vez disso, só silêncio. Calei junto e atendi a uma ligação falsa no celular pra disfarçar. Sobrevivi. Em mulher não se bate nem quando ela torce pro seu arqui-inimigo. Obrigada, Fiel, por me deixar sair ilesa daquele dia. Prometo não tentar a sorte na próxima, embora ainda estufe o peito ao me lembrar dessa história. O dia em que fiz o que nenhum homem sóbrio ousaria fazer.

Leia a coluna no site do Terceiro Tempo: http://migre.me/dDRrM 

quarta-feira, 6 de março de 2013

LOUCA POR MÁQUINA DE ESCREVER

Quando eu era criança, o ruído agressivo das teclas das máquinas de escrever me remetia a trabalho chato e adulto, então escrevia os meus (queridos) diários à mão. Assim que decidi desenvolver melhor o meu texto, abri um blog. Ignorei as máquinas de escrever, que não faziam mais sentido num mundo menos veloz que o de hoje. Pulei a etapa da datilografia, das cópias em papel carbono, do Liquid Paper secando para receber mais murros das letrinhas.

Quando a minha tia se mudou do Brasil, abandonou também a sua Olivetti e pensei em usá-la para decorar a minha casa, já que não funcionava mais. Primeiro, a máquina foi parar no chão da sala de estar. Hoje, o lugarzinho dela é na estante (foto), com a Remington que ganhei de Natal do meu namorado (um dos presentes mais bacanas que já recebi).
meu escritório 

Usar de vez em quando uma máquina de escrever para digitar um texto é um exercício intrigante. Faz a gente pensar mais antes de contar pro papel. O que chega à folha em branco já vem com a ideia mais mastigada, mais pensada, como se numa etapa mais avançada, do que se tivesse sido digitada no computador.

Hoje, elas são enfeites, mas sempre que olho pra minha estante com livros e as duas máquinas pacíficas, que quase piscam pra mim, me lembro do que sou e do que adoro ser: alguém que precisa escrever. 

Se você é das minhas e ainda não tem uma máquina de escrever, clique nesse link do Mercado Livre, que eu separei algumas lindinhas e baratas (até R$80,00) pra você dar uma olhada.
Quem já tem sua máquina de escrever, e quer dar uma customizada e encontrar um cantinho diferente pra ela morar, inspire-se nas fotos de decoração que eu cacei por aí.































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