quarta-feira, 17 de outubro de 2007

DECEPÇÃO 3

Quando mudaram de casa, Débora perguntou ao pai se poderia brincar nos cômodos pela última vez. O pai sorriu e concordou. O que ele não sabia é que ela queria dar estrelas no quarto vazio. Pela primeira vez ela teria espaço! Quando o pai foi buscá-la, para finalmente conhecer a nova casa, o novo quarto, o novo jardim, Débora estava sentada como uma indiazinha no centro do quarto e pronunciava “hummmm”. Aprendera isso com a vizinha, Arlete, que também tinha um salão de cabeleireiro na rua. Arlete adorava fazer “hummmm” quando o marido chegava em casa pedindo o jantar. O pai não entendeu nada e chamou “Débora!” Ela fingiu que não escutou e só saiu dali quando ouviu um barulhinho de papel de bombom. Essa infalível tática era usada por Norberto, segurança da Rua das Flores, ex-rua da família de Débora.

“Adeus quarto! Que a sua nova dona seja tão divertida quanto eu fui! Adeus Arlete, pare de cozinhar feijão, pois o Percival não gosta! Adeus, Norberto! Obrigada pelos bombons, mas agora você terá de comê-los!” E assim Débora se despediu da vida que vivera até aquele momento, segurou a mão do pai. Os dois saíram pela porta da frente, olharam para o sobrado azul pela última vez e, antes do pai dar a partida no carro, Débora voltou e se pendurou na alta janela do banheiro. “Não deixe ninguém dormir com você”, sussurrou. Saltou na grama, entrou no carro.

Foi quieta durante o caminho ao novo lar. O pai não entendeu, pois ela não se animou nem com as músicas do Guilherme Arantes. Débora gostava de cantar “Eu nem sonhava te amar desse jeito” e repetir “eu nem sonhava, sonhava, sonhava, desse jeito...”

DISCLAIMER:
Esta mensagem e qualquer arquivo nela contidos são confidenciais. (Artigo 56 da Lei n.º 4.117 de 27 de agosto de 1962, aplicável aos crimes em telecomunicações, nos termos do art. 215, I, da Lei 9.472/97).

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