segunda-feira, 5 de setembro de 2011

CRUZAMENTO

Foi uma história em fast foward. Quinze segundos eu acho. Eu assisti à transformação de um personagem. Grande ator esse que encontrei na rua. Me pediu um beijo, que recusei. Talvez ele não esperasse, porque um vidro aberto em uma madrugada quente demais para pertencer ao inverno, tenha a ver com disponibilidade óbvia. E pode ter sido que quisesse disfarçar a tristeza da minha rejeição. Pode ter sido isso. Feri os sentimentos de um desconhecido. No segundo ato, vi em seus olhos a mudança de cor. Disse que chamaria a polícia. Mostrou-me o pescoço. Um corte. Repetiu a polícia. Os olhos focados em mim. Esperei um revólver. Esperei um canivete. Agradeci não ter vidro automático e paciente. Bloqueei a voz dele. Meu pânico ficou pra dentro. Exibiu-se ainda na frente do carro. Na faixa de pedestres, como manda o civismo. Ainda falava. Do corte. Eu lia Polícia em seus lábios. Meu coração batucando e ele se foi. Foi pra polícia. Meu acelerador me salvando dali.
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