quinta-feira, 10 de maio de 2007

MINHA VIDA COM A VIZINHA

Cinco anos de casamento e Rita não lhe rendera mais de sete contos. O que era um problema. Estava endividado e um livro de amor lhe traria bons trocados. Só conseguia pensar naquela puta gastando a pensão em bijuterias de mau gosto e cachorros-quentes para as crianças.  Sempre teve dedo podre para mulher, mas uma história sobre um homem abandonado e assaltado pela mãe baranga de seus filhos - porque foi exatamente o que aconteceu – seria como chorar no ombro da melhor amiga. Apesar de escritor, não se permitia a essas sensibilidades diante das situações intensas da vida. Parecia um homem frio, mas falava com o olhar. Uma frieza misteriosa. Arranjar outra mulher não seria difícil. Falava em ter filhos e casamento a qualquer uma com quem saía por mais de três vezes. Ele adorava esse tipo que sonha com a família de comercial de manteiga. E tinha Cristiana, a vizinha gostosa de óculos. Ele sempre notou os olhares dela, lançados dentro do elevador. Cristiana era uma ótima opção: inteligente, alta e morena, porque de loira não queria mais saber, elas vão embora e levam as crianças e o seu dinheiro. Além de tudo, Cris – ou Tina? Qual seria o apelidinho carinhoso que lhe daria? - morava no apartamento ao lado, talvez não quisesse se mudar para o dele quando o relacionamento ficasse sério. Teria a casa livre para sempre. Poderia chegar, jogar a pasta no chão, tirar os sapatos e deixar as meias pelo sofá. Ligaria a televisão no canal de esportes e abriria uma lata de cerveja. Beberia, no mínimo, cinco e deixaria o restinho quente, desejando que a fábrica produzisse latinhas de 150 ml. Aquela vizinha lhe inspirava histórias, quem sabe adotaria um estilo diferente. Tragicomédia ou uma novela dessas bem românticas e arrastadas. Resolveu que no final de semana desceria à piscina para cortejá-la. Adorava essa palavra e tinha certeza de que as mulheres achavam uma graça. No meio do planejamento de seu futuro ao lado da vizinha, a campainha tocou. Era Cristiana. Sem o que dizer, ele apenas olhou daquele jeito que convence qualquer mulher a qualquer coisa. Cristiana também não disse nada. Ficaram assim por alguns segundos, até que ele, ofendido, porque ela usava as mesmas armas, cortou o silêncio. “Oi”. Também não era bom com frases longas, achava que não escondiam nada e esconder era o melhor do jogo. A vizinha corou tensa, uma veia lhe saltou bem no meio da testa. Ela olhou nos olhos dele, seguros, convictos da vitória. Deixou um bilhete e foi embora. Bateu a porta tão forte que o prédio vibrou. Ao ler o recado, ele se achou um quarentão bobo. De amores fracassados por ser bobo. Envergonhou-se até do jeito como se vestia e paquerava.
Cristiana pedia para que ele parasse de espiá-la pela janela.
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