sábado, 20 de dezembro de 2008

NÃO DESEJO PAZ, SAÚDE, DINHEIRO E PRINCIPALMENTE AMOR

 

   Alice não vai escrever cartões de Natal. Porque o ano não foi bom. Foi vazio. Cheio de expectativas esfareladas. Cheio de descompromissos anunciados para os quais ela fechou os olhos. Cheio de noites omitidas pelo álcool. Cheio de amor banalizado. Alice culpa um certo cartão que enviou há um ano. O azar como resultado de uma ingenuidade daquelas palavras. Mas é ingênuo todo impulso aceso pelo mistério. Porém de arrepender-se, Alice não é capaz. Não reprime grito e suor e lágrima e arranhão e vômito e gargalhada e tapa na cara. É de excessos. Gosta de contar os detalhes, nem que seja apenas para lençóis salgados e ainda virgens. Alice não erra na segunda. O cartão vai ficar para os livros que ela ainda vai escrever. Ela espera que, ao ler, Chico não se lembre daquele fim de ano. Mas que ele leia. E que se lembre dela. E que dêem risada do incômodo que a raiva causa hoje.

 

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...