quarta-feira, 9 de abril de 2008

ELEVADO COSTA E SILVA

Era manhã quando o cheiro do Elevado Costa e Silva escorreu pelo corpo de Nice com água, espuma e células mortas. A Rua Rosa e Silva desceu pelo encanamento da casa branca descascada. O Puteiro do Alves, camuflado com a placa amarela Sinuca Chuchu em sua fachada, conheceu os ratos da zona norte que, assim como os moradores dizem “É nóis!”, mas na língua ratatouille. O Bar do Nogueira e o próprio Nogueira escorregaram ébrios na gelatina marrom do esgoto de Santa Terezinha. A Padaria Palmeira passeou pelo mundo que há embaixo do Salesiano e do Mazzarello e ecoou: pizza napolitana! pizza napolitana... litana... tana... tana...

Era manhã quando o travesseiro exalou a saliva ocre. O azedo da fronha, nem as lavagens à mão de Cirlei às quintas-feiras removeriam. Talvez só o conseguiria o sol da semana seguinte. O sol que se comprime ao passar pela janela do quarto de Nice, das oito e vinte e três da manhã às duas e quarenta e cinco da tarde, e esquenta o edredon virgem bordado à mão pela tia-avó. Um espaço em que o Elevado jamais transitaria não fossem os goles abundantes e necessários de um dia anterior.

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...