quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

ELE NÃO VÊ A HORA DE GRITAR FELIZ ANO NOVO PARA SETE ONDAS

 

Não confraternizou. Só passou raiva. Nem beber, bebeu. Quer dizer, não encheu a cara. Forçou sorriso. Forçou obrigados. Forçou tudo bem. Ouviu sobre cruzeiros e música eletrônica e que homens quando cozinham, são melhores que mulheres. Teve até agressão sutil da tia na sogra. Ainda bem que ele não estava lá. Mas tentaram trazê-lo de volta. Que coisa essa no seu trabalho! E quando casa? E quando vem me visitar? E tá feliz? E tá triste? E por que você não me ligou? E o que vai fazer agora? - trabalho voluntário no Quênia, serve? - Assuntos chatos demais para alguém que só queria ficar sozinho e olhar para a foto dela mais um pouco antes de deletar e trancar essa dor em 2008.

sábado, 20 de dezembro de 2008

NÃO DESEJO PAZ, SAÚDE, DINHEIRO E PRINCIPALMENTE AMOR

 

   Alice não vai escrever cartões de Natal. Porque o ano não foi bom. Foi vazio. Cheio de expectativas esfareladas. Cheio de descompromissos anunciados para os quais ela fechou os olhos. Cheio de noites omitidas pelo álcool. Cheio de amor banalizado. Alice culpa um certo cartão que enviou há um ano. O azar como resultado de uma ingenuidade daquelas palavras. Mas é ingênuo todo impulso aceso pelo mistério. Porém de arrepender-se, Alice não é capaz. Não reprime grito e suor e lágrima e arranhão e vômito e gargalhada e tapa na cara. É de excessos. Gosta de contar os detalhes, nem que seja apenas para lençóis salgados e ainda virgens. Alice não erra na segunda. O cartão vai ficar para os livros que ela ainda vai escrever. Ela espera que, ao ler, Chico não se lembre daquele fim de ano. Mas que ele leia. E que se lembre dela. E que dêem risada do incômodo que a raiva causa hoje.

 

sábado, 13 de dezembro de 2008

 

E tira essa mão da minha perna e os olhos de cima da mulher encostada na parede! Que mania de todo mundo você tem!

E sai da minha frente que eu vou deixar o bar e você!

E vem atrás de mim quando eu dobrar a esquina!

E fica quieto enquanto eu rego o seu ego com meus destratos!

 

E finge que acredita!

 

E tira as desculpas da manga!

E forra as minhas confusões com silêncio!

E encosta logo um pouco de vontade na minha boca!

E não me deixa ir embora sozinha desta vez!

E volta aqui!

Volta...

 

Eu finjo que acredito.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

PARA UMA AMIGA ATRIZ


Não espere cores de olhares devolvidos

Não busque flores em carinhos dispensados

A música finca a flecha no inesperado


Não procure


O cinza

você mesma aquarela

Recolhe a poeira

e despeja

no vazio

do choro mudo


Não procure


segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

PROMESSA QUE TE CONTEI

 

que seria mais impulsiva

que não me intimidaria com um desvio de atenção

mas incertezas brecam

um simples olá

SE EU FOSSE MADAME


em dias como hoje

me punha granfina

Metia maiô, chapéu e pose

Tomava glamour ao pé da piscina

Pedia champanhe

Chamava as amigas

Deixava o sol esquentar

E o porre esquecer

uma vida vazia

Mas não sou madame

Sou funcionária

Dias como hoje

não são para mim

O sol arde

o meu jeans

molha minha nuca

mela meu texto

embaça meus prazos

enquanto teclo

por latas de cerveja

cheiro de cigarro

aplausos

abraços picados

avisos picantes

beijos tímidos

e luas

e livros

e sábados

e domingos

com muito sal


sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

SOU DESSAS


De poesias manchadas no guardanapo que interrompem bate-papo de bar. De foto três por quatro morando na carteira. De choro. De olho no olho. De amor à primeira vista. De gostar de abraços largos. De não dá-los. De vontades que explodem e preenchem o caminho de volta para casa. De madrugadas. De planos abertos pelo retrovisor do carro. De baixar a cabeça e fugir para o balcão. Uma cerveja e dois copos! De dedos costurados dentro de uma sala de cinema escura. De nuca. De nunca mais vou beber. De flerte no meio de trombadas. De meias palavras. De tudo escrito. De tudo acabado desta vez. De voltar atrás. De olhar de longe. De fingir que não viu. De mentir que não te fuça. De declarações duras. De tapas leves. Que dizem verdades. De acreditar em vou aparecer mais. De não rasgar fotos. De escrever pessoas em uma bexiga de gás e olhar para o céu enquanto elas se apagam de mim. De cair na mesma história. De novo. Do mesmo jeito. De não prevenir nenhum desgosto. De passar a borracha em um número de telefone. De esquecer que passou. De contar que passou. E esquecer também que contou. De ligações no dia seguinte. De ligações perdidas. De propósito. De alôs mais gagos que convites. Ao vivo. De desligar o telefone e deixar o silêncio dialogar. E de atacar as reticências às páginas brancas. De me conhecer só assim, já que sou dessas que gostam de.

quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

DEPOIS DO ENCANTO...

*
Depois do encanto, a mágoa. Porque a raiva já descansa na manhã de alguma padaria entupida de abelhas, pães de mel e gente bêbada e apaixonada.
Depois de lágrimas, a gratidão. Porque afinal escrevi. Porque tudo que abala o estômago vira palavra. Porque todas as incertezas tiveram respostas fantasiadas.
Depois do sorriso, as costas. Porque a simpatia tem recaídas. Porque o passado tem rosto. E pode ser confundido com presente. Para sempre.
Depois daquele dia, uma tecla: delete. Porque delicadeza, só se regala a quem merece.
*

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

*

 

Continua!

 

Eu deixo

Alivia

 

Depois, pensa:

Ninguém é só branco

Nem todo abraço é santo

Todo eu te amo é sincero

até o dia seguinte

porque o medo

ordena recuo

E assim

fica-se

esperando do outro

flores

que não caem

poesias

explícitas

elogios

que não afogam

o mal-entendido

um desvio

e trilham o fim

desde o início

 

Continua...

 

*

 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2008

A MENINA ENTRA NO SALÃO

A menina entra no salão
Tropeça em bebida, amasso e balanço

Em cima da mesa, ele dança
A fumaça de cigarro enfeita

Ela espia do canto

A música evapora

Vibram as mãos dele
e os olhos dela

Permanece covarde
entre beijos alheios e risadas
até acordar

domingo, 23 de novembro de 2008

UMA CARTA

 

   Quando você voltar, eu vou arremessar no seu cinismo todas as flores que ganhei. Você vai espanar as pétalas que escorreram para o ombro e partir. Quando estiver a cinco passos de mim, vou cantar aquela música que você não decora. Você vai voltar e provar que prestava atenção quando eu te ensinava. Eu vou ouvir, séria. Vai me olhar com a mesma expressão de quando leva bronca, pegar a rosa mais despetalada do chão e entregá-la a outra, como você sempre faz. Eu vou desligar a sua cena e tomar o copo de cerveja para não mostrar que minhas mãos tremem. Vou esperar no balcão alguém com um ramalhete. E quando você voltar eu vou atirar mais flores na sua cara e depois que você cantar pra mim, eu volto pra você. Você sabe. Eu volto.

sábado, 22 de novembro de 2008

*

Assim que coloquei o pijama, o telefone tocou. Ana demorou para falar alguma coisa e quando disse:

- Pedro,

Mais silêncio e:

- Pedro, boa noite.

Desligou.

Acho que ela não queria me dizer isso.

 

*

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

*

Levanta-se da cadeira e passeia devagar pelo escritório.

- Que delícia andar no meio da sala! Ela parece mais vazia hoje.

Só que a sala sempre esteve daquele jeito. Com o mesmo cheiro de mofo, a mancha no carpete perto da tomada, cadeiras enferrujando e papéis usados. Uma insatisfação nauseante estampa o rosto dos funcionários e a água do filtro parece vir de algum prato de samambaia. O homem barrigudo vestindo camisa de listras vermelhas e pretas rosna para preencher o vazio que a frase deixou.

Volta à cadeira, seu celular toca. Colore o ambiente com o mesmo sorriso patético de dias seguintes.

*

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

VERONIKA

 

Eu disse  que postaria apenas uma frase dos contos que começo a escrever sobre as personagens da próxima peça. Mas me empolguei e vou mandar o miniconto inteiro. Tudo bem... Se alguém quiser comentar sobre o clima, abuse!

 

*

Muita coisa pinga no vazio do crânio:

a frase de um livro,

um atropelamento,

um moinho,

uma maca,

pernas mancas,

patos brancos nadando em sangue coagulado.

 

Mas meu olhar arregalado só tem um alvo.

Encara intenso. Briga de retinas.

Você dentro de si, controlado. Até quando?

Continuo explodindo até que você desperte.

*

 

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

ASSIM PREFIRO

Solta
atiro
o brilho do rímel

Borro noites

Meus cílios confusos
confiscam atenção

Carecem de olhos

Brinco de estrela
das suas raras aparições

Na sua falta
esfaqueio mãos ingênuas

Sem remorso
Sem cabeça

Solta

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

*

Na minha mão tudo vira crise.

Se pensam que sofro com isso, estão certos.

Se pensam que me esforço para mudar,

saibam que sou bem acomodada.

 

*

domingo, 2 de novembro de 2008

*

Meu beijo é mentiroso

com frieza cobra vingança

bagunça cabeças


Deixa a dúvida na presença

esquenta lábios à toa

faz cena

fascina


Depois se afasta

e tranca na noite anterior

outra leviana conquista

*

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

QUANDO EU OLHAR PARA FRENTE VAI SER TARDE


Não espere que eu:

acorde de madrugada porque alguém chora

segure uma mão durante a vacina

escolha a cortina da casa nova

retorne sua ligação perdida

preencha com ração um pratinho

compre um presente de aniversário

leve a lei seca a sério

prepare café quente de manhã

pergunte da sua tosse

lave o prato do almoço

console sua tristeza

trate os dentes com cáries

- e o câncer sem cerveja

desacelere na lombada eletrônica

saiba o limite do cartão de crédito

me prepare para uma prova

mantenha minha palavra

ame na sua ausência

me afaste da ânsia

- de beber sem limite

Meu tempo é curto.

terça-feira, 28 de outubro de 2008

IÔ-IÔ

para C.

Me implora romântico, por carta:


Me enrola em lençóis e mentiras,

que eu topo mais uma vez.

A penúltima.


Guardo na bolsa. O papel tem seu perfume. Eu sei que você fez de propósito. Releio entre uma rua e outra. Dia após dia. Mas as palavras vão escorrendo. Apagam-se a cada semana que passo sem notícias suas. E quando, como pelas folhas de sulfite, já não procuro mais por lembranças daquele domingo, outra carta:


Me esquece.


Essa, rasgo. Acomodo os pedaços dentro de uma caixa, caso me arrependa mais tarde. Seu texto me enjoa. É repetitivo. Num berro, escrevo também. Desta vez, por necessidade de preencher linhas. Apenas.

domingo, 5 de outubro de 2008

***


Aperta o passo

se me vir por perto

e parte


Não me importo


***

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

INTERVALO



Uma paisagem imóvel

do meu olhar infinito


Com um basta afável

suspiro

Estou de passagem

não me solicitem

gritem meu nome

às canetas

abafem meu socorro

com bits

reprimam meus desejos

com algemas


No regresso

um sorriso

simples


quarta-feira, 17 de setembro de 2008

NARIZ GELA...


Nariz gela
cabelo embaraça

cachecol esquenta
palavras gagas

um aperto de mãos
quentes, suadas

o não
fixado no vento

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

CHAT 4

No banheiro, ele. Olhos verdes e boné. Ele, canalha. Do jeito que eu gosto.

- Achei que tivéssemos combinado na porta do cinema.

Engraçado, mas essa frase era para ser minha. Ele é esperto e se antecipa, jogando a culpa do suposto desencontro em mim.

- É. Combinamos.

- Por que você não apareceu?

Olho para a porta do banheiro para distrair a minha raiva e respondo que:

- Acabei encontrando um amigo no caminho e paramos para tomar uma cerveja.

Os olhos verdes encaram meus lábios enquanto falo e eu acho que esse é um dos momentos que não vai sair da minha cabeça nas próximas semanas. Pelo menos enquanto ele tiver alguma importância para mim. Enquanto essa historinha render.

Um mês de conversa na internet é convívio, não? Eu inventava desculpas frágeis para sair mais cedo do trabalho e colar os dedos no teclado. Jantava em frente ao computador para não perder um smile sequer. Sempre foi ele quem se despediu. Tenho de dormir, amanhã acordo cedo. Eu nunca tomei essa iniciativa. Nem em dia de rodízio em que acordo às cinco da manhã! Passávamos a madrugada relembrando as trilhas das novelas. Stay, Oingo Boingo – a minha preferida. Ele sabia que eu não era capaz de encerrar a conversa. Se não estivesse envolvido não perderia tanto tempo comigo, deve ter pensado. E se me conhece um pouco, também sabe que dormir é a coisa de que mais gosto, depois de afundar os pés na areia da praia.

Ele é bem mais bonito do que na foto. Bem mais bonito do que se descreve. Não é tão alto como disse e a camisa xadrez dá um ar de alguém muito mais desencanado do que desenhei. Melhor assim, gente de camisa me dá pânico. Podem falar da alta do dólar ou da viagem de cruzeiro que fizeram na Páscoa. Pânico. Mais pânico quando ele sugere:

- Vamos descer?

- Claro.

Um minuto e ele já me fez esquecer o homem do cigarro que me espera lá embaixo.

(Continua...)

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

CONVENIÊNCIAS

Davi olha para mim e começa a chorar. Eu já achei mais bonitinho quando a respiração dele dá soquinhos e as palavras mal saem. Hoje penso puta que pariu! homem feito desses chorando que nem gatinho abandonado em terreno! Davi pisaria em mim se desconfiasse de alguém vindo em nossa direção numa rua deserta. Davi me aperta forte de susto no meio de um filme sangrento. Quando as luzes se acendem, ele me larga, ajeita o cabelo e sai da sala a passos apressados como se me esquecesse ali dentro com os assassinos. Davi gosta de se vestir bem. Roupas de marca, ele diz isso pelo menos uma vez por dia, ao telefone, nas minhas horas de almoço. Ele assistindo televisão: Leão Lobo. Para saber os lugares que as celebridades freqüentam.

Eu voando num balanço de playground. Sentada no colo de um rapaz. Nós dois em uma tábua de madeira lascada. O lugar vazio. Para frente e para trás. Davi longe. Nós dois alternando os olhares entre o céu e nossas latinhas. A cerveja gelando a garganta do rapaz. Assanhando a mão dele. Eu de saia branca. Nós dois, sob os olhos de Davi e a cerveja alimentando a terra do playground. A latinha caída de espanto. Davi no playground. Olhos perplexos começando a inundar diante do balanço.

Davi pede que eu desça do colo do rapaz. Enxuga as lágrimas e segura a minha mão. Acaricia o meu cabelo cor de mel. No apartamento, pede que eu tome um banho.

Davi na sala. Bermudas jeans e chinelo de couro. Assiste ao início da novela das oito. Pede que eu me sente ao seu lado. Não fala sobre o balanço, a cerveja, a mão assanhada dentro da minha saia. Davi consegue enterrar essas imagens no chão do playground. Não vai perguntar quem é o rapaz. Olhou para os sapatos dele e sorriu satisfeito, eu percebi. Davi não paga a conta de luz e não é dono do nosso carro. Davi pode suportar o que viu. Davi pode comprar a cerveja da próxima vez no meu cartão. Ele boceja e vai para o quarto. Acordará só amanhã às onze. Antes de bater a porta, pede que eu deixe o cheque em cima da mesa de jantar. Em branco. Como sempre faço.

domingo, 31 de agosto de 2008

HIATO


O que fica é a temperatura quente do mar. A contagem das ondas. As conchas. A cadeira dura. Uma canga na areia. Cervejas. Um peixe com baião. Uma foto. Dentes aparecidos. Meu coração transformado em pedra. Atirado na água. Afunde e não volte à superfície! Nem para me bajular. Fique com os peixes-fastasmas. Que eu fico com o sol esquentando os ombros. Em um passeio nas dunas. Em uma pausa no lago. Deixo a dor, levo os danos. Que a ingenuidade da pele alva que um dia conheceu não volta. Dela, o que fica é a transparência de sempre. Que não teatralizará o primeiro não.


segunda-feira, 25 de agosto de 2008

DESPEDIDA

Despeço-me do sorriso doce. Do jeitinho dado. Do abraço contido. Da foto posada. Do olhar desconfiado. De um encontro escondido. Do disco emprestado. Que fiz questão de riscar com a ponta do salto para gritar de dor sempre que tocar.

Digo adeus à imaturidade. À falta de coragem. Aos seus contatos. Aos seus excessos. Aos textos inspirados. Aos momentos confidenciados ao travesseiro. Aos seus apelos que apertam as minhas mãos. Às músicas que me lembram. Às lágrimas enjoadas da superfície do meu rosto. À ansiedade do dia seguinte a você. A todo o encanto que há em uma história poetizada.

Despeço-me de um olhar desviado. No meio de uma conversa. Entre algumas promessas. E de todos os beijos trocados que eu teria de suportar.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

CHAT 3

Escolho um boteco sujo. Desses em que baratas andando pelos cantinhos repletos de migalhas de pão e poeira recebem nome e carinho do chapeiro. Sentamos ao lado da máquina de karaokê. A mesa é de madeira. Sem que eu peça, o garçom serve uma Original, dois copos. Traz também uma dose de Nega Fulô, amigo! O homem não tira os olhos de mim. Não são verdes, como os que me deixaram plantado na porta do cinema. Ele me paga! Os olhos do homem são pequenos. É a boca que chama atenção em seu rosto. Tomo um gole da cerveja. Cacete! Gelada, boa. A Nega Fulô vai da mão do garçom para a mesa de madeira para a mão de homem para sua boca. Grande. Bebe como tequila.

- Rola aquele cigarro?

Ele acende com um palito de fósforos que tira de uma caixinha de seu bolso. Calça jeans rasgada, azul clara. E traga.

O homem joga a fumaça em meu rosto. Sorri com sua boca grande e me beija.

- Qual é o seu nome?

Qual é meu nome? Não pago bebida para conhecidos. Pode me chamar de. De Tico. E me beija de novo. Morde a minha boca. Forte. Minha língua prova o sangue em meus lábios. Preciso ir ao banheiro.

No banheiro, ele. Olhos verdes e boné. Ele, canalha. Do jeito que eu gosto.

(Continua...)

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

CHAT 2

... para mim e sorri. Eu:

- Quer um cigarro?

- Você não fuma.

- Não...

- Não estou mais bêbado, obrigado.

- Prazer.

- Igual.

- Quer...?

- Já disse que não.

- Beber.

- Sim, sempre.

- Uma cerveja.

- Cachaça.

- Eu pago!

 

(Continua...)

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

SILÊNCIO


Em vez de ditar-se à boca

a palavra recuou

Mais graça teria

um dedo indicador

contar segredos

à superfície de uma mesa molhada

de gelo

derretendo

no canto do bar

CHAT


Chego atrasado como sempre faço. Largo o carro no estacionamento. Portas abertas. Quase esqueço o comprovante e levo as chaves. O filme está para começar. Ele me esperou?

Um homem, o de sempre, bonito, bem bonito, me pede um cigarro. Ele sempre me pede cigarro. Devo ter cara de fumante. Na volta passarei em uma padaria para comprar um maço. Poderemos conversar da próxima vez.

Ele não está no saguão. Entrou? Ligo. Caixa Postal. Falo com o porteiro. Nenhum homem de boné entrou na sala. A moça da bilheteria deve saber. É alto. Charmoso. Olhos verdes. Ela teria notado. Ele não veio. Mentiu? O caixa do café! Ele parece gostar de café. Parece ter o hálito de café e hortelã. O caixa só vendeu capuccinos hoje. Tem cigarro. Marlboro, por favor. Ele não veio. Teve medo. Eu é que não vou desperdiçar uma noite quente com diálogos mal-escritos. Prefiro jogar xadrez.

Na porta do cinema, o homem, o de sempre. Olha para mim e sorri.

(Continua...)


segunda-feira, 4 de agosto de 2008

O FIM DO BAILE

(Inspiração da semana: espere sentada.)

Espera de pé por uma dança

Quando cansa,

senta-se

Quando procurada,

valsa

Quando tocada,

deita-se

De um lençol marcado,

levanta-se

e veste-se

para contrariar o desejo de quem nela enlouquece

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

SEU NOME

O som surge

A língua seca

O coração breca

 

A mão balança

frenética

O olhar escurece

dramático

 

a garganta entupida

de restos embriagados

hesita

 

A palma sua

Um sorriso tonto

se mistura

ao dia todo

 

Só de ouvir

terça-feira, 10 de junho de 2008

ASPIRINA

- Pegue a aspirina para mim!

            Ela guarda os remédios dentro de uma caixa velha de sapatos, que deixa em cima da geladeira. Talvez as gavetas estejam entupidas de potes Tupperwares queimados, oleosos e sem tampas. Além de aspirina, sal de frutas, remédio para o estômago, calmante, antialérgico e Band-Aid. Suas dores são tão fortes durante a noite, que é incapaz de se levantar da cama. Espera-me chegar.

Prefiro a solidão. Entrar em casa e esquecer a sandália ao lado do sofá junto com a bandeja que usei para jantar macarrão instantâneo em frente à televisão. Dormir em meio a roupas sujas jogadas em cima da cama e acordar seis horas depois com a música gospel que toca no rádio-relógio. Em vez disso, é a voz rouca dela que me desperta, pedindo três reais para comprar o pão.

- Pegue a aspirina para mim!

Procuro em vão por talheres limpos e guardanapos de papel. Esquento o jantar, que ela deixou pronto para mim em cima do fogão: arroz, cenoura refogada e filé de frango. Penso em reclamar a falta de feijão. Seu arroz continua empapado, a cenoura, crua e o filé, malpassado. Mas o cheiro é bom.

Ignoro a caixa de sapatos. Vou até o quarto dela e, sem acender a luz, dou-lhe o copo de água e uma pedrinha branca que decora o aquário do peixe.

Antes que se entregue aos sonhos, suas dores cessam.

 

sábado, 7 de junho de 2008

LÍNGUA

(texto lido no terceiro sarau da AIC em 4 de junho)

A assadeira esquenta. Picados, na tábua de carne, a cebola, o alho e meu coração. Escorregam para o inox excitado e chiam lambuzando-se no azeite. Você sempre prefere o azeite. Eu não, ele espirra em meu rosto. É contra o que faço? Inalo o vapor dos temperos. Está na hora. A geladeira impede que a carne apodreça. Escolho.
Acrescento um ramo de alecrim. Os murros começam quando fecho a porta do forno. Enxugando as mãos no avental recém-lavado, abro a porta da frente. Perguntam-me sobre você, Adelaide.
- Sumiu há um mês. Já disse.
São bem menos simpáticos, os dois policiais, desta vez, e como já conhecem a casa, saem à sua procura pelos cômodos. Você sabe, querida, que tenho manias. Não gosto de pessoas bagunçando as minhas gavetas.
Aguardo encostado à geladeira e acendo um cigarro. O maior deles quer me filar um. Entrego-lhe dois, acompanhados do sorriso, que você muito bem conhece. Minhas rugas os relembram como é doce um velho.
- Que cheiro bom...
Choro. Você diz a mesma coisa sempre que o alecrim começa a perfumar a cozinha.
Acham-me gentil quando ofereço um pedaço do assado. Anoitece. Como não matar a fome dos coitados, que nem almoçaram? Culpa de um chefe carrasco que só pensa nos olhos do Secretário de Segurança.
Com as bocas meladas, vão embora satisfeitos. Desculpam-se pelo incômodo.
Ao fechar a porta, vou, vaidoso, comprovar o sucesso da minha receita.
Sua língua continua deliciosa, Adelaide, meu bem.

terça-feira, 27 de maio de 2008

NOVE DA MANHÃ


O trânsito de São Paulo. O ar empedrado de São Paulo. As buzinas de São Paulo que insistem no coro: Bi Bi, Fom Fom, Gostosa. E a impaciência que assinaria as minhas ofensas aos ouvidos do meu chefe e o meu pedido de demissão.
O carro da polícia de São Paulo posando valente em duas das três faixas de uma avenida, porque, talvez, algum ladrão, necessitado, pai de família, cheirador, desesperado, inexperiente, tenha sido surpreendido.
A insignificância de um semáforo verde em São Paulo. A chuva caindo nas poças de São Paulo. Os velhos e suas bengalas atravessando as faixas de pedestres de São Paulo. E o início da minha reunião com quarenta e cinco minutos de atraso do horário programado. Sem café, porque é mais importante ensaiar uma desculpa.
Uma hora depois, cinco ligações do escritório depois, três blocos de músicas depois - uma delas repetida quatro vezes - dois blocos de notícias depois e dez metros depois, percebo mais que o carro da polícia: um resgate, curiosos e verbos soltos no ar, como horas atrás, um corpo.
O corpo de um cretino atrapalha o trânsito de São Paulo.
(texto inspirado em “Construção” de Chico Buarque)

segunda-feira, 26 de maio de 2008

CONTAMINA-ME O SONHO DE MINHA MÃE


Enfim conheci a letra B que, prometeu a casca de laranja rompida depois de nove giros velozes, vai voltar para casa com um conto doce nas mãos só para me agradar, dizendo que eu não preciso emagrecer, porque sou bonita assim, com cinco quilinhos a mais.

Que tome nota disso tudo a letra G, que encasquetava comigo! Não a culpo. Como não associar destino ao desenho de veias no peito do pé esquerdo?

quinta-feira, 8 de maio de 2008

SEM SEXO




(texto lido no sarau da AIC em 07 de maio)

Mal a porta bate, pode sentir o cheiro de rosas no quarto e o toque bruto de Inocêncio nas suas coxas. Gosta dos calos das mãos masculinas e o prazer que deixam marcado na pele. Tem o hábito de contar na última folha do talão de cheques os dias em que está sem ver um homem nu: duzentos e cinqüenta e oito, graças ao desastre de carro que matou o marido. Tem quatro horas para relembrar os seus melhores ângulos e exibi-los ao espelho do teto e a Inocêncio. Separou na noite anterior o melhor sutiã, meia-taça, e a menor calcinha.

Inocêncio bebe o vinho tinto seco indicado no menu. Ela comemora a temperatura ambiente: vinte graus. Ideal para simular excitação. Esperar que o álcool transforme o colega de viatura em galã é perder tempo, pois já sente a intimidade latejar. Romântica, retardaria o momento de despir a lingerie, mas a precipitação desabotoa o meia-taça, que cai no chão em câmera lenta e ela se arrepia cheia de expectativas. Revelam-se aos olhos do policial seios grandes. Inocêncio, que nunca esteve diante de tal abundância e tanta iniciativa, recua (inseguro?). Ela deixa a calcinha escorrer pelas pernas grossas até encontrar o carpete, encardido de outros prazeres. Inocêncio reprime a manisfestação precoce do seu desejo. Ela se atira aos lençóis de cetim salmão e o traz consigo, ainda vestido. Com a confiança recuperada, ele aborta as preliminares, arranca o uniforme e se concentra na (jura!) satisfação carnal da amante.

Deveria pelar o aproximar de seus corpos. Deveria haver suor tatuando nucas e abdômens. Mal dançam os quadris nas ondas do colchão de água. Mal encostam-se as bocas urgentes de beijos agressivos. Ele grita, enquanto o tédio dela olha para cima, pensando em marcar o reflexo dos cabelos para sábado.

- O ar condicionado está ligado?

Inocêncio, antes empenhado em gemidos primatas, interrompe as fracas reboladas das nádegas peludas. Ao perceber que o homem poderia desabar em choro, frustrações e posteriores broxadas, ela unha a cintura dele e refaz:

- Não pare agora!

O entusiasmo dá continuidade aos movimentos monótonos, desta vez, mais mecânicos, de Inocêncio. E ela pensa:

- Só falta querer dividir a conta!


quinta-feira, 1 de maio de 2008

DESTA VEZ, O FIM

(Texto escrito para o blog da AIC)

Desta vez, terminávamos. Do flagra no bar até seu apartamento, vivemos ofensas na calçada, lágrimas e o empurrão que me atirou de encontro ao muro. Sentados no sofá velho, partiu de mim o pedido. No mesmo sofá em que trepamos quatro vezes na nossa primeira noite. No mesmo sofá em que, talvez um dia, planejaríamos eternidade e casa própria.

Você, mudo, me encarava, vazio.

Abriu a boca para dizer um nevoeiro de palavras: amor, prisão, desejo, mulheres, homens, livre. Reprimi a vontade da minha dor: apagar você com a ponta da tesoura na garganta.

Eu lhe deixava, quando você enchia um copo de água com açúcar para os meus nervos, com a promessa de nunca mais ceder ao charme que existe nos seus telefonemas com flores, consertando, assim, os impulsos de uma semana passada. Destratada, à porta do meu carro e aos prantos, menstruava-me sempre a cena do bar: você, desejo, homens, livre.

Quando a chaleira apitou, minha alegria foi perceber que, desta vez, pela primeira, eu fantasiava o nosso fim.

PASSAGEM DE SOM

Uma cabeça baixa

covarde

 

Minha cegueira

fingida

 

Acordes costuram

um encontro

imprevisto

 

Passos dissonantes

se encaram

 

Mãos refugiam-se

em sax e cigarro

 

Sapatos e notas

enterram no asfalto

o adeus tardio

quarta-feira, 23 de abril de 2008

MICROCONTO 3 - TRÊS

Ele insiste.

Ela resiste.

 

LÁPIS

Desde que ouviu o desabafo telefônico da mãe à tia Fátima, Dênis encasquetou com os lápis. Era capaz de abdicar do Yakult e da esfiha de carne do seu Brito no recreio. Em troca, pedia à avó que metesse na lancheira três bisnaguinhas com Ioio Cream, embrulhadas em papel alumínio e na garrafinha térmica, suco de maçã. Guardava as economias dentro do seu porquinho, comprado no farol da avenida Sumaré. Cabulava as aulas às sextas-feiras em um pinote à papelaria. Torrava os reais em lápis coloridos e macios. Separava-os de acordo com os locais. Na sala deixava os azuis; em seu criado-mudo, os brancos; no jardim, os importados do Japão; guardava três de borracha na mochila e a coleção da Faber Castell 36 cores escondia na gaveta de calcinhas da mãe. Em um domingo de manhã, a desgraça sussurrada ao telefone aconteceu. No banheiro, a mãe se debatia em tremores no azulejo. Ao abrir o armário das toalhas, o terror soprou a espinha do garoto. Encontrou um único lápis, o de maquiagem, apontado, quase no fim. Um lápis pequeno demais para caber de uma ponta da boca da mãe a outra. Seu plano falhara. A mãe mastigaria a própria língua e seus lápis de cor, escolhidos com tanto cuidado, não a impediriam de um canibalismo inconsciente. Derrotado pela culpa, Dênis se sentou na privada e chorou, enquanto sua mãe babava por socorro.

quarta-feira, 9 de abril de 2008

ELEVADO COSTA E SILVA

Era manhã quando o cheiro do Elevado Costa e Silva escorreu pelo corpo de Nice com água, espuma e células mortas. A Rua Rosa e Silva desceu pelo encanamento da casa branca descascada. O Puteiro do Alves, camuflado com a placa amarela Sinuca Chuchu em sua fachada, conheceu os ratos da zona norte que, assim como os moradores dizem “É nóis!”, mas na língua ratatouille. O Bar do Nogueira e o próprio Nogueira escorregaram ébrios na gelatina marrom do esgoto de Santa Terezinha. A Padaria Palmeira passeou pelo mundo que há embaixo do Salesiano e do Mazzarello e ecoou: pizza napolitana! pizza napolitana... litana... tana... tana...

Era manhã quando o travesseiro exalou a saliva ocre. O azedo da fronha, nem as lavagens à mão de Cirlei às quintas-feiras removeriam. Talvez só o conseguiria o sol da semana seguinte. O sol que se comprime ao passar pela janela do quarto de Nice, das oito e vinte e três da manhã às duas e quarenta e cinco da tarde, e esquenta o edredon virgem bordado à mão pela tia-avó. Um espaço em que o Elevado jamais transitaria não fossem os goles abundantes e necessários de um dia anterior.

quinta-feira, 27 de março de 2008

VODU

Agulho o peito de pano

É pouco!

Espeto sua cabeça de espuma

Arranco a mordidas braços e pernas

Você não arde

Ela não transborda

nem sangra


O flagra se repete

Você, a mesma

Cravo em seu peito um espeto de carne

Cai o meu boneco de pano

Escorre a sua última indiferença

quarta-feira, 26 de março de 2008

PELA PORTA

Quem é essa mulher e por que ela não pára de olhar para a porta? Eu não vou aparecer para o seu contentamento. Odeio agradar. O estalar dos seus dedos me irrita a ponto de eu manchar o seu vestido branco com o meu vinho tinto. Recuso-me a pagar a lavanderia! Posso, no entanto, lamber os respingos em seu rosto macio com a minha língua áspera. Não quero um beijo. Quero lhe dar um espelho e a foto dos meus três filhos. Não quero um amor. Se ela concordar, cumpre oito horas diárias. Pago o seu bilhete Único. E tem a minha camiseta listrada de vermelho e azul-marinho. Ela sabe lavar? Parece-me do tipo que não reclama das mãos secas de sabão. Pensando bem, é bonita, mas olha para a porta insuportavelmente. Sua devoção desperta a minha sede. Que pernas, puta que pariu! Ela quer? Eu quero. Hoje. Por enquanto. O dia seguinte, resolvo a minha maneira: a ausência canalha no café da manhã, enquanto ela olha para a porta e me espera voltar.

sexta-feira, 14 de março de 2008

LIMÃO-BANANA

Vocês já viram um limão com vontade própria? Eu não, mas soube de um. Aconteceu na semana passada com a minha vizinha de seis anos. Abri a porta e dei de cara com a Yasmim chorando e foi difícil me controlar para não rir daquela coisinha de bochechas gordas, borrando toda a sua maquiagem de palhaço. Era dia do circo e as professoras fizeram essa surpresa para a criançada. “Que aconteceu, Yasmim?”. Entre soluços e fungadas ela me contou que um limão não sabia se queria servir de suco para ela. No Pré-III eu conversava com a pia do banheiro e via sombras andando pelas paredes de casa, então achei que fosse coisa da idade e me ofereci para acertar as contas com o limão. Mas não éramos tão parecidas assim, já que ela agradeceu, mas recusou a minha ajuda. Disse que era um assunto que deveria resolver sozinha com o limão. Ver uma criança auto-suficiente me dá raiva. Não dela, mas de mim, que sempre fui uma tonta incapaz de solucionar os problemas da infância sozinha! Uma bronca da professora se traduzia em fracasso. Mas coisas sérias nunca me abalaram. De um acidente de carro na Marginal Pinheiros a um assalto com revólver na cabeça há dois dias. Então aquele limão medíocre se fazendo de difícil para a minha vizinha de seis anos... Era sacanagem! Eu queria dizer para a Yasmim procurar outro limão, já que esse não estava cooperando e que os limões são todos iguais! Eu queria entrar na casa dela à noite e jogar a laranja da fruteira no lixo, porque com certeza ela devia ter alguma coisa a ver com isso. Mas achei que talvez fossem visões muito precoces para uma menininha do pré-primário. Não queria ser a responsável por ela odiar os limões para sempre e não experimentar caipirinha (de pinga, saquê ou vodka) na adolescência.

Logo soube que Yasmim só havia tocado a minha campainha para pedir uma música. “E desde quando você conhece Mombojó?” E essa malandra ainda tem um gosto musical bacana! Só faltava fumar e discutir o cinema de Antonioni tomando cappuccino! O limão havia contado que gostava das músicas do Mombojó. Emprestei o primeiro álbum.

Naquela noite Yasmim ligaria o radinho do seu quarto para ouvir a faixa oito, Adelaide. Apagaria a luz e esperaria pelo sono contando limõezinhos espremidos em uma jarra de suco transparente. Eu sentaria para tomar uma cerveja com os amigos, porque de caipirinha já enjoei (elas são todas iguais!) e pensaria em uma maneira de fazer Yasmim colocar esse limão contra a parede. Se ele não quisesse virar suco, que tivesse a coragem de dizer, assim ela poderia abrir a geladeira a pegar uma maçã.

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