quarta-feira, 17 de outubro de 2012

CÁRCERE


Um amor estático flutua preguiçoso a três palmos do meu travesseiro, quando é madrugada e tudo é sussurro. Lembranças tristes e carneiros pulando brigam pelo primeiro lugar. Provo paciência. A página branca e tolerante freia um abraço. A distância é ríspida. Meu escândalo não te alcança, é desespero invisível. Insuportável é gostar sem ruído. Armazeno você num parágrafo, pra rabiscar mais tarde. Apagar mais tarde. Quando já for muito tarde. Muito tarde e adiável.

Meu mundo apático se embriaga de olhares perdidos. Nem sei o que miro. O dia se esgarça em frames. Tarefas e compromissos e gritos espancam a campainha do meu controle. A janela trancada - nem o ar respira aqui dentro - o cachorro esperneando atrás dela e, quando percebo, perdi uma hora. Sessenta minutos de você, chumbo agarrado aos meus tornozelos. Me enterrando em silêncio.

A sua felicidade abafando qualquer coisa que tenha me dito naquela ligação. Na surpresa de uma esquina que dobrei, em vez de te evitar. Numa fotografia que pensei ter apagado – ela tem seu cheiro e o meu agasalho também. E terça passada se me surpreendessem: a história de alguém que respira agasalhos e tem olhos encharcados de alguma coisa que um dia ganhei por engano. Seu cheiro, que não chamo de perfume, e algumas partes da sua vida me interrompendo. Freneticamente.

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