quarta-feira, 13 de junho de 2007

PAIXÃO CAFÉ

     João, 32 anos, nordestino, maduro e carente. Desses que não são capazes de controlar a velocidade das batidas de próprio coração. Não conseguia dormir. Estava debaixo do edredon verde há uma hora com aquela taquicardia. De olhos fechados, procurando a melhor posição para se entregar ao sono. Resolveu apontar a barriga para o teto e levou os braços cruzados para a parte de trás da cabeça. Respirou um “dane-se” e levantou-se. Ao acender a luz, a claridade não o incomodou, pois a ansiedade pedia maior atenção. Foi direto à gaveta do meio da penteadeira da mãe, falecida. Pegou um envelope lilás, aberto, e tirou dele um papel arrancado de um caderno universitário. Palavras escritas a caneta bic azul. Se alguém pudesse vê-lo naquele momento o acharia bobo. Não é assim que definimos um homem que se rende a uma fantasia romântica? Alimentado de uma felicidadezinha efêmera, dobrou o papel pela terceira vez na mesma noite e o enfiou dentro do envelope, devolvendo-o à gaveta. Apagou a luz e no meio daquele silêncio, pôde ouvir o coração ainda mais acelerado. Deitou-se com um sorriso carimbado e tentou, outra vez, dormir. Em vão.  
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