quarta-feira, 22 de junho de 2011

MEUS DOMINGOS DE OURO

Eu me lembro das noites de domingo que passava em Santana. Na época, meus pais moravam na Europa por motivos familiares. Eu gostava de comprar vinho, fazer uma massa com o molho ensinado pela nonna e alugar DVDs na Blockbuster pra assistir sozinha. Tenho saudade. Eram dias mais românticos e eu lamento terem escapado de mim.


Eu esnobava os lançamentos e toda aquela gritaria acumulada e bem produzida de Hollywood. Só suportei de criança. Meu encontro era com o Cinema Europeu, pensando que alguém, igualmente interessado no assunto, poderia vir conversar comigo durante esses passeios à videolocadora. Eu era solteira e eram realmente dias mais românticos. Ninguém nunca me abordou entre um Fellini e um Godard. O corredor do Cinema Europeu era sempre vazio e fiquei triste quando, poucos meses depois, teve de encolher e dividir teto com seus irmãos Documentários, tão esquecidos pelos moradores de Santana, quanto eu.

Um domingo à noite, pelo meu amigo corredor, na companhia de Truffaut, Resnais, Moreira Salles, Coutinho e pensando que a pipoca teria muita manteiga desta vez, desemboco em Todos Dizem Eu Te Amo, que não era europeu e muito menos filmado no velho continente. Era um puro Woody Allen, nova-iorquino, que também brigava por um espaço na área fantasma da Blockbuster.

Woody Allen me acompanha desde então – ou vice-versa. Em minhas fases beats, tristes, tropicalistas, contemporâneas, azuis, desiludidas, alienadas, nacionais. Nunca mais abandonei seus diálogos, sua graça, suas crises, nosso amor pela Europa e o dele por uma Nova Iorque com cara de Europa. Esperar o novo filme dele é a garantia de que vou ter um daqueles domingos de volta. E quando esse momento chega, eu repito meu ritual: abro um vinho, preparo uma massa e vou me encontrar com ele.

Sempre senti falta de aplaudir bons filmes no cinema. Eu vou muito ao teatro e nada me chateia mais do que a “obrigação” do aplauso em peças que detesta. Em cinema, só presenciei algo parecido na pré-estreia de Cidade de Deus, na FAAP, há uns dez anos. Mas éramos jovens e eufóricos. Não sei se conta. Hoje, enquanto os créditos subiam, ouvi bem mais do que comentários e perguntas sobre o cartão do estacionamento. Ouvi aplausos. Aplausos merecidos. Era como se um pedido se realizasse. A pessoa que eu esperava naquele corredor, repleto de filmes rejeitados, estava ali comigo. E se multiplicava. Me juntei ao coro.

É meia-noite em São Paulo. Eu volto do filme com algumas frases anotadas e deixo tudo ecoando, enquanto subo a rua. Entro em casa e nem ligo a televisão para não contaminar. Falta alguma coisa ainda. Mas Woody Allen me consola “o presente é um pouco insatisfatório, porque a vida é um pouco insatisfatória”. E isso vai me preencher. Pelo menos por esta noite.

sexta-feira, 10 de junho de 2011

SHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH

é dedo acorrentado mesmo. boca travada. enquanto no sangue correm todas as noites que eu gostaria de confessar. nossas luas costuradas em rascunhos impublicáveis. enquanto isso uma estátua de mim mesma, diante de uma tela preenchida com as músicas que eu quis presentear, mas deixei no carro. pro dia seguinte a sua festa de aniversário. pra nenhum olhar me reprimir. ignorantes da realidade em que me meti: o fundo daquele poço, onde uma vez me enterrei.
a sentimento cinza e fofoqueiro querendo abrir todas as portas e transformar-se em presente. não. eu não consigo mais abrir os pontos fora do meu quarto.
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