segunda-feira, 26 de março de 2012

MANHÃS ABSTINENTES



a madrugada é triste. a madrugada é sempre triste quando você dorme. ou quando escolhe outro lugar, diferente do meu pescoço. se não existe a sua voz alagando a madrugada, ela não ganha um bafinho de cor. quando o seu sorriso é estrangulado, pra que serve o foco da lua?

de dentro do carro eu posso escutar você interpretando em todos os tons aquela palavra que raramente fala. e desconfiar de você a cada vulto que atravessa debaixo do semáforo, espionado pelos faróis. às vezes tenho vontade de te atropelar. me entristecer pela sua morte e não pela sua ausência.

eu abandono a madrugada, quando cinco horas de álcool decidem destrancar o que os dias claros e quentinhos reprimem. o que a distância tranca. as facas que tiro do peito. quando é manhã eu nunca lembro que você já fez parte.

Larguei as madrugadas pra você desaparecer. Consegui evitá-las, até que. Até que essa crise. Uma crise, um impulso, um chame-do-que-quiser. é tipo fissura de me esgotar nelas como antes. ou me esgotar em você. não sei qual desejo amanhece primeiro. parece que me estampo nessa  história, quando fica insuportável me evitar. por isso arremessei nossas madrugadas, migalhas de alegria. presas à uma pedra, talvez sufocadas de água e de minha invisibilidade, sua incontestável criação.

é inquieto. é surdo. eu meto a lembrança de como é a tua pele junto tênis e sabonete. é incontrolável e curto o momento em que penso em você pela primeira vez depois de, e o momento até a porta da sua casa. é quase sonho. é quase porre. é quase um coma. é quase morte. a minha.

eu. piscando. cada poro. minhas palavras em alto-falantes. estardalhaços do que vaza. e você.

cego eterno.

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