quarta-feira, 14 de outubro de 2009

APAGÃO

Dentro de um corpo imóvel.

AAAAAAAAAAAAAA.
Alguém ouve?
(Silêncio)
Melhor assim. (?)
Alguém vê?
...

O sono chega ordenando:
Fechem os dois olhos! Abram o bocejo da boca.

A cama deita em lençóis e convida sedutora:
Vem. Veeemmm...

Eu vou.

Deixo as folhas adormecerem na calçada da frente. Os cachorros procurando algo sólido no prato. As multas invadindo a caixa do correio. O telefone gritando seu monólogo sufocado. O tanque do carro tosse o ar seco e alcoólico. Rodas chutando alguma quina de calçada.

Eu talvez repique o cabelo em cima da pia do banheiro. Talvez não entenda um livro enquanto me agarro ao sofá. Talvez ceda aos excessos noturnos até de manhã. Talvez o relógio me espante:
Olha como eu faço as horas correrem!
Talvez o espelho me espante:
Olha como eu faço os anos passarem!
Talvez eu fique com a minhas gírias velhas.
Talvez até me deixem lembrar de quando aprendi tabuada.
Talvez não tenha tempo de ver o nascimentos dos vincos.

BI BI BIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII

O cheiro de álcool no estofado. O cheiro do ferro do sangue.

Minha família surpreendida e salgada no quarto de um hospital.
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