segunda-feira, 21 de setembro de 2009

AS MARCAS DO PULSO NÃO SE DEIXAM ESCONDER...


As marcas do pulso não se deixam esconder. Em que mês estávamos? Lembro que já era verão, porque eu suava dentro de um vestido de mangas curtas. Foi no dia seguinte àquele. O desejo do fim se espalhando dentro de uma banheira com água quentinha. A solução para estancar emoções azedas. Que se assumem físicas. Eu fiz tudo errado. Cortes horizontais. Tudo inconscientemente errado. O cabelo molhado abraçou o travesseiro e secaram juntos, levando meu verbo. Enquanto parentes me visitavam com mãos apertadas e olhos cheios de dó. Que se fodam. Uma tia beata e um cartão com um salmo. Está lá até hoje, em cima do criado-mudo. Empoeirado. Aguardando uma voz que o parta. Eu olho pra ele quando chego de madrugada e deixo meus brincos descansando ao lado. Olho pras rosas da imagem do fundo e penso na minha vó. Deixamos morrer a roseira que plantou quando era moça. Flores para homenagear a morte dos pais. De pais que não queriam morrer. Acontece. Por que a gente luta tanto contra? Acontece. Faz tempo não penso nessas marcas. É que hoje elas ardem. Como se acabassem de nascer. Um pressentimento. Como se a qualquer minuto pudessem se abrir de novo. Duas tiras de gaze manchadas pelo pranto dos pulsos. Parece ontem. Meu desassossego volta a transbordar. Preciso enterrar meus pés bem longe daquele dezembro.
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