segunda-feira, 29 de abril de 2013

TEXTO VENCEDOR DA PROMOÇÃO: "O AMOR PRECISA DE DESPEDIDA PARA NÃO SER ETERNO"

por Angélica Leal

Eu não me importo com o seu relógio com os ponteiros sempre atrasados. Não me importo com os bares e lugares que você escolhe. Eu já não te espero, nem te acompanho. Não me importo com as vírgulas mal empregadas e as frases que você não sabe formular. Não aguardo nenhuma mensagem, nenhuma carta num corpo de e-mail. Não me importo se o telefone não toca, se nenhum alerta pisca. Não espero resposta. E para mim não faz diferença se você se importa, não há nada de novo nisso.

Eu, que sempre me incomodei com cada detalhe, permaneço agora em estado de indiferença. Velho amor é passado, mas é sempre amor, apesar de mudar a forma e agregar a ele outros sentimentos.  Mas isso não tem nada a ver com o que eu penso a seu respeito, aliás, quase não penso. Ignoro cada gesto, cada encontro casual, cada bom-dia com sorrisos amarelos – atitude de dois estranhos familiares.  Finjo não ver, porque é melhor que sorrir.

Era meu melhor amigo, mas hoje somos bons desconhecidos. Dois adultos que não sabem viver sem se esbarrar, sem desviar os olhares. Que conversam no silêncio, na distância, na mudança de vida, na troca de amores. Somos apenas duas crianças que não aprenderam que para seguir em frente, com quem quer que seja, é preciso perdoar. Não se pode ser apenas um quando os nós não foram desatados. Mesmo que nada mais de nós realmente importe, é preciso saber olhar nos olhos e dizer tchau, para que finalmente possamos dizer olá, sem medo.

Eu não me importo com nada em você, com nenhuma mania. Não te quero comigo, nem espero que você me dê a mão. Desejo apenas que um dia possamos agir sem culpa, que saibamos, pelo menos, não desviar os olhos. Em algum momento, eu sei que finalmente aprenderemos a amar de novo, depois de encararmos os anos que não vivemos, apenas remoendo, levando todas as angústias e frustrações do nosso amor antigo para nossos novos amores. E antes de pedirmos perdão a quem quer que seja, que perdoemos a nós mesmos por invalidarmos qualquer possibilidade de alegria sincera ao lado de outras pessoas. Por culparmos os outros pelos nossos próprios erros.

Quem quiser conhecer mais o trabalho da Angélica Leal pode clicar no link do blog dela, o Cotidiano,
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