sábado, 31 de janeiro de 2009

SOBRE JAZZ, MULHERES E O VAZIO, VOCÊ SABE.

 

Então na madrugada de uma segunda-feira eu me sentei à mesa com eles e ouvi, finalmente, sobre jazz e mulheres. Mais sobre mulheres do que jazz. Sobre a bunda delas. Babavam por gostosas alheios ao meu julgamento. Ou por uma necessidade de exibir indiferença por mim. Para autenticar qual era o meu lugar - de onde, mal sabem eles, nunca saí. Mantive-me calada o tempo todo. Eu queria ser apenas um porta-copos bêbado. Sorri. Aquele saborzinho atraentemente estranho de novos terrenos.

Não falaram do vazio. O tema nem chegou perto de suas salivas alcoolizadas como profetizado. Mas estava em mim desde a manhã anterior, quando olhei para ele dormindo, despido de sua verborragia charmosa. Quando pensei que, acordar ao meu lado, pudesse não ser exatamente do jeito que ele prometeu. Quando resgatei meus brincos do carpete e fui embora pisando ainda em meias silenciosas para não descobrir a verdade. Quando pensei que nem a mudez de seu sono, cortada pelos carros da avenida, me amparava. O vazio antecipando-se. Implorando para ser preenchido por alguma sessão de cinema que durasse mais de um mês. Por bobagens doces e turbulentas como ter o indicador dele desenhando espirais em meu ombro esquerdo.

Ouvi sobre mulheres. Gostosas. Muito mais do que eu. Pensando que sempre vou me sentir a bunda (ou a falta dela) desejada do bar se continuar insistindo em óbvias derrotas. Em desprezo atenuado com bandeiras brancas levantadas no final da noite. Em fugir de um  tapa na cara quando o dia amanhece e um simples olhar te responde o que você não tem coragem de perguntar. O tão suplicado fim. Raros e felizes instantes desintegrados para sempre pela fadiga de uma corrida cega.

O vazio eu não entenderia se me acompanhasse em outro momento, em outra mesa. O vazio não existiria sem manhãs como aquela em que o deixei dormindo. Em que o deixei.

 

sábado, 17 de janeiro de 2009

DESCULPE, MAS PRECISO IR

 

Desperdiçar meu silêncio

desligar convites

desistir de estrelar confrontos

desanunciar sofrimentos

despedaçar o tempo - remontá-lo, para que o início impere

desprezar a verdade dita - que morre na ausência da saliva

desdenhar provocações

desconhecer ilusões

descalçar certezas, torná-las conquistas amenas

desaparecer

des parecer

      par

de  pa  ce

des

d

.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

HOJE NA BRIGADEIRO

 

Não foi a sensação de liberdade por caminhar em uma tarde de quarta-feira. Não foi a música de que mais gosta tocando na lojinha de velas perfumadas. Não foi o sorriso que recebeu de um esbarro de olhares. Foi a placa na porta de um hotel. Precisa-se de arrumadeira urgentemente. Quase subiu as escadas. São quantos quartos? E para a recepção de madrugada, estão precisando? Lembrou-se de que o Zona Azul venceria e deu as costas a essa possibilidade. Subiu a avenida suspirando por mais caprichos (?) que a tirassem de sua bolha.

sábado, 10 de janeiro de 2009

QUANDO AS ANGÚSTIAS JÁ NÃO CABEM

 

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Fugiu, porque o resto do mundo parecia mais interessante. Foi de madrugada, sem se despedir, para que ninguém a convencesse do contrário. Até hoje me manda cartas.

Um dia ainda bebo da mesma coragem.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

CELULAR NÃO COMBINA COM MADRUGADA

 

Ninguém soube dizer se a luz que iluminou seu rosto, escurecido pela fumaça do ambiente, vinha apenas do visor apitando uma fase mais tranquila. Talvez tenha sido a alegria que seus dentes denunciavam. E apenas uma pessoa poderia explicar o motivo da inquitação dela diante de tantas garrafas de cerveja chique. Por aquele momento ficou alheia à poesia dos diálogos que esquentavam a garganta de todos. Ele, que já se obrigava a sonhar em cama quente e solitária, pensou nela antes de fechar os olhos e também quando os fechou. Ela sorriu, sentindo a paz de que tanto precisou. A paz que antecede o furacão dos próximos dias de angústias previstas.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

NOSTALGIA

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foto: priscilanicolielo

Gosto de dias assim. O sopro frio ocupando um céu azul claro. Nuvens raras. É meio de ano no hemisféro sul. E eu tinha um edredom, uma varanda e vinho tinto. Você, minhas mãos. Do canto, o seu bambu espiava, enterrado ao lado de uma canabis. Fui feliz, agora lembro. E serei de novo ao lado de outras companhias, se houver mais dias como esse de que gosto tanto.

Feliz Ano Novo e desculpe por estragar o último que passamos juntos.

 

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

EU ME OUVIRIA...

Se ela encantar os seus olhos, desvie.

Se segurar a sua mão, desconfie.

Se cobrar decisão, peça refrigerante - porque a cerveja responde sem te consultar.

Se ela se aproximar, bloqueie o desejo. Ocupe a boca com desprezo.

Quando for embora, reze para que ela não desista.

Segundas chances são fraquezas do lado sonhador.

domingo, 4 de janeiro de 2009

O ANO NOVO



Nada tirou tanto o sono de Alice quanto seus pensamentos competindo com roncos e grilos na escuridão de um quarto com beliches. Pensamentos que, se ela contasse a alguém, tapariam com as mãos a paciência dedicada nesses dois anos. Encheram-se. Não há mesmo o que se fazer. Ela sabe. Só sonhar. Acordada. Inverter o pesadelo da crueldade em que vive. E ao inverter, ao sorrir cada vez que o retrato sobrevoou seu travesseiro nessas noites, chegou a uma conclusão. Alice vai aprender a acariciar esbarros com gentileza e distância. Daqui pra frente. Ou só neste ano. Uma experiência que, quem sabe, consiga lapidar tanta intensidade quando ouve certos passos preenchendo o corredor. 
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