segunda-feira, 5 de março de 2007

DECEPÇÃO 1 - PEQUENA MISS SUNSHINE

Uma personalidade fraca levou Débora a esses concursos ridículos de beleza. Pobre criança! Nasceu na época da explosão da Rainha dos Baixinhos e tivera a “sorte” de ser loira dos olhos azuis. A mãe não perderia a oportunidade de colocá-la diante da apreciação de jurados! Ela era realmente bonitinha. Tinha o nariz arrebitado e o sorriso da Olívia Newton-John. O que ambas não sabiam é que, anos mais tarde, Débora não atingiria 1,70m e seu vício em chocolate lhe daria o peso certo para procurar por endocrinologistas e psicólogos.Enquanto, nos bastidores, as mães disputavam no bate-boca, qual era a filha mais bonita, a mais talentosa, a mais bem pretendida, a mais estudiosa, a mais blá blá blá, as garotas brincavam de imitar as chacretes. Já achavam paquitas “coisa de criança”. Débora se trancava no banheiro, pois tinha vergonha de falar que gostava das discípulas Xuxa. Lá ela deitava no chão gelado com uma das bochechas colada no piso. Pensava que não gostava daquela lugar e daquelas pessoas. A parte mais chata era fazer maquiagem. Odiava quando lhe diziam para não piscar os olhos e assim passavam uma tinta preta nos seus cílios. Ela nem sabia que piscava os olhos, mas nessa hora sentia-os bem secos, bem secos e depois, finalmente, molhados. Era quando levava uma baita bronca. Sempre que a mãe lhe flagrava deitada no banheiro, começava a gritar por socorro, achando que algo acontecera. Débora gostava disso, ela ficava quieta e fingia que estava dormindo. Era o único momento que sua mãe lhe dava atenção sem pedir que passasse batom e sorrisse. Ela achava chato sorrir sem vontade. Como não contrariava a mãe, abria a boca de um jeito amarelo e sem-graça. A vida inteira acreditou que não vencia os concursos porque não sorria muito. Aprendeu de pequena que simpatia, beleza e espontaneidade agradavam as pessoas. Ela não era espontânea. Vivia ensaiando as coisas que gostaria de dizer. Não conseguia falar de sopetão. Trancava a porta do quarto e ligava o rádio-relógio bem alto para que ninguém pudesse ouvir suas brigas, suas declarações de amor e seu carinho pela professora de que mais gostava. Um dia, foi flagrada pela mãe, que deu risada e achou tudo muito bobo. O que Débora sentiu depois disso não foi bom. Ela ensaiava para agradar a mãe.Por que ela não contava que preferia freqüentar aulas de desenho a desfilar para um monte de babonas. Ela nunca ganharia um desfile de miss! Seu pai não era doutor, sua mãe não era presidente do Lions e Débora não era de prometer beijos a quem votasse nela. Pensava isso, pois um dia ouvira a mãe chorando ao telefone, confidenciando esses pensamentos à tia. Bonita ela era, claro. Como poderia ser mentira. Uma mãe não mente.A coragem para desistir de tudo, mesmo que fosse decepcionar a mãe, surgiu quando...
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