terça-feira, 20 de julho de 2010

ALGUM INTRUSO



A jovem escapa de um filme duro e real, enquanto pensa nas paredes, que poderia derrubar, do apartamento alugado num bairro cheio de cinemas e que talvez, um dia, compre. Lembra-se da cama carioca da amiga que é vista da sala de estar, mas também do cheiro de fritura de carne que pode invadir as tardes, produtivas ou não, dedicadas ao computador. O que se aproxima do seu ideal de lugar? Aquele que quase leva o seu sobrenome ou perfume de tão impregnado nela. Trânsito, vale-refeição, obediência, cartão de ponto, parcela de carro e a conta da TV a Cabo, itens da sua sobrevivência. O tempo gasto com a construção de uma vida que um dia pode não mais lhe pertencer. A fantasia deixando-se atormentar pela bela e violenta figura de alguém que invade a rotina que hoje só pertence a ela. Rotina sem gatos, peixes e i-pods. E quando pensa no intruso...  Descarta as folhas rascunhadas no lixo. Acrescenta tijolos de qualidades, até chegar num potótipo suportável, ausente de problemas. Absurdo e sedutor. E quanto mais inventa, mais se conscientiza da distância entre o apartamento das paredes derrubadas e o lugar ideal.
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