quinta-feira, 24 de maio de 2007

PREGUIÇA II

Uma vontade de voltar às seis da manhã, quando estava frio e garoava. Ao abrir meus olhos, pude fechá-los imediatamente, porque o edredon estava macio, cheiroso e quentinho. De repente o miado da gatinha do outro lado da porta, trancada. Ela poderia se deitar perto de mim. Ouviria o seu ronronar e seu corpinho me aqueceria mais.
Uma preguiça às seis da manhã. Ainda bem, eu pensava, ainda bem que posso dormir mais três horas hoje. Ainda bem que existe rodízio de carros para manhãs como essa, típicas de São Paulo.

terça-feira, 22 de maio de 2007

porque

porque você não combina comigo. porque você nem é tão bonita assim. e seu humor é esquisito. sinceramente não vejo a mínima graça nele. porque você odeia criança e me mandou comprar um peixe em vez de ter filhos. porque você abomina drogas naturais. mas sugeriu que tomássemos bala naquela rave. principalmente porque odeio raves. porque ainda gosto dela. que não é tão decidida quanto você. nem tão esperta quanto você. também não fala doce como você. mas ela é mais presente do que você. porque, de vez em quando, não sinto vontade de te ver. porque você me proibiu de pagar a conta e porque odeio proibições. porque você me dá medo. porque acabei de sair de um relacionamento e não quero me envolver com ninguém. porque o seu perfume me faz lembrar da minha avó. porque você é para sair e comer uma pizza. porque você não sustenta uma conversa por mais de uma hora. porque minha mãe não gostaria de você. porque você não me faz pensar em nada. embora seus olhos azuis me entretenham durante alguns segundos. porque estou conhecendo muita gente. porque tenho que ir com calma. porque você não é pra mim. mas você é pra alguém. só não pra mim. porque consigo achar tantos porquês.

segunda-feira, 21 de maio de 2007

O CHEIRO DE CIGARRO NO DIA SEGUINTE

     De repente acordou. Um vazio. Ela não estava ali. Há tempo demais. Sensação ruim acordar cheirando a cigarro e bebida sozinha. Decidiu voltar a dormir. E assim foi até o dia seguinte. Os sonhos não lhe tiraram a sensação de podridão. Voltava a ser mais uma mulher comum. Mais uma mulher que não tinha para onde voltar. Para quem. Detestou a solidão. Detestou a independência. Detestou o “quero dançar com outro par para variar, amor”. Detestou, durante todo o final de semana.

quinta-feira, 10 de maio de 2007

MINHA VIDA COM A VIZINHA

Cinco anos de casamento e Rita não lhe rendera mais de sete contos. O que era um problema. Estava endividado e um livro de amor lhe traria bons trocados. Só conseguia pensar naquela puta gastando a pensão em bijuterias de mau gosto e cachorros-quentes para as crianças.  Sempre teve dedo podre para mulher, mas uma história sobre um homem abandonado e assaltado pela mãe baranga de seus filhos - porque foi exatamente o que aconteceu – seria como chorar no ombro da melhor amiga. Apesar de escritor, não se permitia a essas sensibilidades diante das situações intensas da vida. Parecia um homem frio, mas falava com o olhar. Uma frieza misteriosa. Arranjar outra mulher não seria difícil. Falava em ter filhos e casamento a qualquer uma com quem saía por mais de três vezes. Ele adorava esse tipo que sonha com a família de comercial de manteiga. E tinha Cristiana, a vizinha gostosa de óculos. Ele sempre notou os olhares dela, lançados dentro do elevador. Cristiana era uma ótima opção: inteligente, alta e morena, porque de loira não queria mais saber, elas vão embora e levam as crianças e o seu dinheiro. Além de tudo, Cris – ou Tina? Qual seria o apelidinho carinhoso que lhe daria? - morava no apartamento ao lado, talvez não quisesse se mudar para o dele quando o relacionamento ficasse sério. Teria a casa livre para sempre. Poderia chegar, jogar a pasta no chão, tirar os sapatos e deixar as meias pelo sofá. Ligaria a televisão no canal de esportes e abriria uma lata de cerveja. Beberia, no mínimo, cinco e deixaria o restinho quente, desejando que a fábrica produzisse latinhas de 150 ml. Aquela vizinha lhe inspirava histórias, quem sabe adotaria um estilo diferente. Tragicomédia ou uma novela dessas bem românticas e arrastadas. Resolveu que no final de semana desceria à piscina para cortejá-la. Adorava essa palavra e tinha certeza de que as mulheres achavam uma graça. No meio do planejamento de seu futuro ao lado da vizinha, a campainha tocou. Era Cristiana. Sem o que dizer, ele apenas olhou daquele jeito que convence qualquer mulher a qualquer coisa. Cristiana também não disse nada. Ficaram assim por alguns segundos, até que ele, ofendido, porque ela usava as mesmas armas, cortou o silêncio. “Oi”. Também não era bom com frases longas, achava que não escondiam nada e esconder era o melhor do jogo. A vizinha corou tensa, uma veia lhe saltou bem no meio da testa. Ela olhou nos olhos dele, seguros, convictos da vitória. Deixou um bilhete e foi embora. Bateu a porta tão forte que o prédio vibrou. Ao ler o recado, ele se achou um quarentão bobo. De amores fracassados por ser bobo. Envergonhou-se até do jeito como se vestia e paquerava.
Cristiana pedia para que ele parasse de espiá-la pela janela.

sexta-feira, 4 de maio de 2007

UM FRIO NAQUELE PONTO DE ÔNIBUS!



Fazia frio no ponto de ônibus naquela noite. Nada pra olhar, ler ou tomar. Olhei o relógio. Nove horas. Lembrei de você. Era o seu horário, o seu ponto. Você me emprestava aquele casaco preto antes que meus dentes começassem a bater.
Do outro lado da rua, homens bêbados no balcão de uma padaria falavam alto. Ao menos, me distraíam.
Quando o ônibus chegou, fiz sinal e ele parou. Com o pé no degrau e na mira dos olhos cansados do motorista, recuei. Uma esperança de te ver pela última vez. Mais uma vez, você me fazia passar frio.
O que eu diria se você aparecesse? Talvez atravessasse a rua para me esconder no meio dos homens e da cerveja. Talvez fosse melhor eu me preparar com uma dose de qualquer coisa com mais de 50% de teor  alcoolicoantes de você chegar. Por sorte era noite e não repararia na minha bochecha vermelha, que fica assim só quando eu vejo você, depois daquele dia.
“Filho da Puta! Traidor” - alguém gritou do outro lado da rua. Não era preciso olhar para saber que vinha da padaria. Lembrei de você e me arrependi de não ter tomado aquele ônibus barulhento. Senti vergonha do que fiz. Fiquei quente. Eu pegaria o próximo. Rezei para você não aparecer. O ônibus demorou. Atrasado. Como sempre. Como você.

quinta-feira, 3 de maio de 2007

EU DECIDO.


Ele dança conforme a música, mas só se mexe quando conduzido. É meio feminino, mas agrada.
Não há o que definir. O meu romantismo simpatiza com a idéia de que ele esteja petrificado de medo. É mais interessante assim.
Pode ser indiferença. Deve ser.

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