segunda-feira, 30 de março de 2009

DEBAIXO DA TERRA


Confortar mãos antes da partida. Saber que pode ser a última. Como anunciado outras vezes. Tantas. Os olhos ameaçando saudade. E ninguém encontra palavras para amenizar as próximas semanas solitárias. Porque não existe necessidade. Um dia, a tristeza evapora mesmo. O vazio é curado com a rotina morna e distraída. A vida quase volta a ter sentido quando um cheiro te engana vestindo um sopro de vento no meio da noite. Seria o mesmo? Não. É sempre um cover mal feito da realidade. A realidade é embaçada. Deveria ser mais simples memorizar os bons momentos.
A despedida é difícil. Assim como a verdade. E o que anestesia a ausência são as fotografias que poderiam ter sido apagadas - mas o apego proíbe. A lembrança da certeza entre uma música e outra. A certeza que se desmancha com o fim das madrugadas. Com a primeira marcha do carro engatando. Com uma caixa postal.
Quando se resta, a única coisa que se tem a fazer é fechar os olhos e reprimir o reflexo público de um adeus dissonante.

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