terça-feira, 4 de março de 2008

BLUSH VERMELHO-GOIABA

Foi a única que enrubesceu na apresentação. Esperou tensa a indiazinha perua dizer por que queria o estágio. Enquanto isso sua língua secou e as pernas começaram a tremer de um jeito engraçado que a forçava a mexê-las o tempo todo para disfarçar o nervosismo. Lembrou do teste de direção para tirar a carta de motorista. Deixou o carro morrer por não conseguir manter o pé esquerdo firme na embreagem. O descontrole era tanto que seu joelho batia na direção. Na sua vez de falar, a timidez não se escondeu. Alguns apostavam que ela havia passado blush no rosto inteiro. Se ela soubesse, retrucaria “Jamais! Eu não uso blush vermelho-goiaba, mas rosado médio, porque dá um visual queimado de praia”. Começou dizendo o nome. O som do “s” não saiu como gostaria. Sua voz também. Não se concentrou para deixá-la mais grave e o que a sala inteira pôde ouvir foi uma menininha de vinte anos insegura, despreparada e burra. Alguém deve ter pensado em mandá-la de volta às compras no shopping. Outro deve ter olhado constrangido para cima com o intuito de se desligar do que ouvia, tamanha a vergonha que sentiu por ela. Enquanto falava suas bobagens, desejava ter escrito tudo na lousa branca para quem quisesse ler e saber quem ela era realmente. Alguém além daquele nome dito de maneira fraca e com problemas na dicção. Alguém além da máscara de timidez. Alguém capaz de conversar com mais gente além dela refletida no espelho do quarto. Finalizou confessando nunca ter lido Borges e só voltou à estabilidade cinco pessoas apresentadas depois.

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