terça-feira, 28 de agosto de 2012

HISTÓRIA EMBOLORADA




De um menu, escolho sempre a mesma entrada: esgotar brechas solitárias de uma página a mim confeitada. Um tempero que não abandono: me untar até o último grão de tudo. Garfo palavras, antes de esfriarem. Amasso frases, para que se encaixem no cantinho inferior do papel. Um prato-feito-escrito escorrendo da minha boca. Recheio as bordas dessa página, para te agarrar pelo coração. Molho o indicador e lambuzo a caneta. Dá gastrite desperdiçar o que está bom.

Dessa história que mordi, senti o bolor, já no beiço. Meu encanto azedou. Você murchou, porque esqueci de acrescentar as vírgulas. Espirrei pasta mastigada, mistura brancazul. Minha saliva rejeitando o final de um conto que eu ainda preparava. Minha vontade marinada para outra refeição. A língua queimando de silêncio. Tristeza a la carte.

Errei a mão. Exagerei no açúcar. Ignorei a receita, fiz de olho. Arranquei do forno antes do tempo. Esqueci diálogos na geladeira. As letras apodreceram, de uma linha pra outra. Um ponto final amargou a boca. Reticências depois da barriga cheia. Frases interrompidas fervendo no teclado. Água e sal sobrando no meu rosto – com chorinho. Eu cega à validade das coisas. Eu, nem em banho-maria. Estragada, no lixo.

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

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Morreu de mãos dadas à saudade. Morreu de orgulho.

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quarta-feira, 8 de agosto de 2012

CORAÇÃO EM ACUPUNTURA




Brigadeiros para saciar o vazio que me visitou depois dessa manhã. Parte de mim querendo se dissipar pelo seu quarto, escapar pela janela - bolhas de sabão apáticas - para não precisar digerir o quanto contamino a alegria com manchas de insatisfação (inquietação?)
Você, o olhar no meu. O meu, agarrando o chão. Chocolate na cabeça, em vez de cerveja.
Alguns dias de silêncio. Alguns dias de mim mesma e de meus conflitos tentando se resolver no estômago. Coração em sessão de acupuntura.
Enquanto vomito num papel o que preciso arrancar da pele e do tom da minha voz quase nula. E inspiro o que gostaria de ser - não só pra você - pra mim, pra sempre: sorriso eterno e contínuo.

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