Guinchada a dois amigos, cada um protegendo um lado do meu
corpo, descemos a rua. É noite, ela está barulhenta de pessoas vestidas de
preto, de adolescentes de cabelo azul. Piercings andam dentro de skinnies.
Meias-calça furadas com um propósito: encaixe social.
Essa rua tem seu cheiro. Eu destoo daqui. Mas o encanto
dela. O seu encanto. Essa rua é sua.
No meio do caminho, a minha pedra: você. Você sobe a rua. E o jeito como os seus olhos se arreganham toda vez que me sobrevoam. E
eu devo soltar aquele sorriso tímido, em que revelo mais gengivas do que o
normal.
Brecamos. Os amigos que penduro tropeçam neles mesmos.
Preciso chegar até você apenas para dizer “oi”. E imaginar que você pode me
resgatar daquilo. Daquele passeio. Daquele disfarce de vida social. Me arrancar
das buzinas da noite e do odor de cerveja que intoxica o bairro.
Você sempre faz. Do seu jeito, mas faz.
Poucos segundos. Os segundos em que nos avistamos. Os
segundos em que nos tocamos. Segundos de despedida.
Dias revivendo esse encontro.
Dias revivendo esse encontro.
Voltamos aos nossos caminhos. Vou descendo a rua em piloto
automático. Você sobe em direção a algum cinema, algum bar, alguma outra
pessoa, alguma noitada, que só termina quando o sol expulsa todo mundo da
festa.
Cada um na sua. Em direções contrárias.