quarta-feira, 26 de março de 2008

PELA PORTA

Quem é essa mulher e por que ela não pára de olhar para a porta? Eu não vou aparecer para o seu contentamento. Odeio agradar. O estalar dos seus dedos me irrita a ponto de eu manchar o seu vestido branco com o meu vinho tinto. Recuso-me a pagar a lavanderia! Posso, no entanto, lamber os respingos em seu rosto macio com a minha língua áspera. Não quero um beijo. Quero lhe dar um espelho e a foto dos meus três filhos. Não quero um amor. Se ela concordar, cumpre oito horas diárias. Pago o seu bilhete Único. E tem a minha camiseta listrada de vermelho e azul-marinho. Ela sabe lavar? Parece-me do tipo que não reclama das mãos secas de sabão. Pensando bem, é bonita, mas olha para a porta insuportavelmente. Sua devoção desperta a minha sede. Que pernas, puta que pariu! Ela quer? Eu quero. Hoje. Por enquanto. O dia seguinte, resolvo a minha maneira: a ausência canalha no café da manhã, enquanto ela olha para a porta e me espera voltar.

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