segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

DIA-A-DIA



O teto manchado de infiltração e o ventilador a passos preguiçosos. A maçaneta antiga, encoleirada por cinco peixinhos desejando-me sorte e feliz aniversário. A camisola no chão, a calcinha no chão, o pesadelo que tive e fios de cabelo. Meus pés no chão. Gelado. Água quente na raiz do cabelo. Pingos espancando o piso abafam lágrimas que se misturam ao xampu, ao sabonete, ao que eu gostaria de dizer. sons de vira-latas quebrando a chuva daqui de dentro. uma meia felpuda chupando um tornozelo ainda encharcado. e pente. e vestido. e perfume. e batom. e aquele laço de cabelo que eu ganhei só pra te fazer sorrir. chaves resgatadas por mãos secas e um dedo torto. insetinhos assassinados por limpadores de para-brisas e um coração, decorando vidros saciados pela garoa de ontem. O céu solitário. E antenas e radares e pontes e uma cortina cinza transparente embrulhando tudo. O crachá permitindo que portas abram os braços e te recebam no mundo de ontem. E de anteontem. E de amanhã. pausa para tomar ar. A fumaça do café e suas promessas. talvez um esboço de sorriso. talvez. o mundo de ontem novamente. flutuo. pedidos de resgate. Fujo. O seu abraço e a lua e todos os clichês que se realizam de vez em quando. Aporto e permaneço. em vez de disfarçar você com banho. escolho encarar meus sonhos em vez das hélices todas as manhãs. aqui ainda te enxergo, sem que você perceba.

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