terça-feira, 12 de março de 2013

O dia em que torci pro Palmeiras no meio da Fiel


Sou mais macho que muito homem. Ou mal-educada. Ou uma doida. Vocês decidem, leitores.
Não sei por que me meti no estádio em um jogo do Corinthians. Foi no ano passado, diziam que o mundo ia acabar, então quis viver algo inédito, que pudesse fazer parte do filme que passaria na minha cabeça nos minutos finais da vida. O mundo não acabou e essa história pode ser divida com vocês.

Acontece que o Palmeiras, time da minha família (esquecido em algum bolso das minhas prioridades, como aquela nota de dois reais que você acha de vez em quando e se lembra que a calça estava parada há pelo menos dois meses no guarda-roupa) jogava em outra cidade, no mesmo horário do jogo do timão prestigiado por mim. A minha ignorância esportiva aprendeu naquele dia que os gols de outros jogos que estão acontecendo simultaneamente no Brasil são transmitidos nos estádios durante as partidas. Já posso andar uma casinha no tabuleiro do futebol.

Algumas semanas antes da minha visita ao estádio, um gringo, que assistia ao Corinthians na arquibancada, tinha sido expulso pelos gaviões, porque o pobre desavisado usava verde, cor sentenciada de morte, se plantada no meio da Fiel. Vai vendo.

Eu estava lá a paisana, nem de verde, nem de preto-e-branco. Escolhi azul-marinho. Completamente invisível aos olhares da fúria alvinegra. O jogo estava chato, um zero a zero de dar sono, e eu me pegava distraída, muitas vezes focando a menininha sentada ao meu lado, que acompanhava o pai e se vestiu de rosa da sandalinha ao arquinho na cabeça. Outras vezes admirando as nuvens que se encardiam em cima da minha cabeça, anunciando chuva. Sempre assim. São Pedro só trabalha quando estamos ao ar livre ou de sexta-feira, às seis da tarde. Adeus, cabelo arrumado.

Um som anunciou um gol fora do estádio, fora da cidade. Palmeiras, o time a quem devo respeito (amor e fidelidade são outros quinhentos), tinha marcado em cima de algum time, do qual não me lembro o nome por motivos de: não me interessa saber.

- Gooooooooooool! Gritei, por impulso e ingenuidade. Berrei, celebrei, festejei e dancei o Tchu Tcha Tcha no meio de machos emputecidos com um zero a zero monótono, esquecendo um detalhe pomposo, o lugar em que estava. Eu, um ponto azul-marinho e loiro no meio de uma torcida que abusa do preto-e-branco, como se fosse uma releitura mais rústica da marca Chanel.

Meu amigo corintiano, que estava comigo, deixou vazar perplexidade, um sinal do meu breve linchamento.

Em vez disso, só silêncio. Calei junto e atendi a uma ligação falsa no celular pra disfarçar. Sobrevivi. Em mulher não se bate nem quando ela torce pro seu arqui-inimigo. Obrigada, Fiel, por me deixar sair ilesa daquele dia. Prometo não tentar a sorte na próxima, embora ainda estufe o peito ao me lembrar dessa história. O dia em que fiz o que nenhum homem sóbrio ousaria fazer.

Leia a coluna no site do Terceiro Tempo: http://migre.me/dDRrM 

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