sábado, 14 de fevereiro de 2009

DEIXANDO A INDIFERENÇA MAIS BONITA

 

se um poema ainda não nasceu é porque está indiferente. e jura: não achou que fosse possível. justo ela que aproveita-se do choro atrevido, que explode em uma calçada no caminho de volta para casa, para desabafar a pedaços de papel. ela que gosta da condição de não pertencer a nada e nada ter que a pertença. que anseia justamente pelo que nunca será seu, apenas para continuar tomando vento pelas madrugadas sem avisos, relatórios e manifestos conjugais. ela vai dormir esta noite ironizando o fato de que acordar ao lado de um estranho é menos estranho que acordar ao lado de Ñy&ll.  e pensará se ele já desejou presenciar os olhos de Üb@ revelando o tom verde em uma dessas manhãs cheirando a álcool, cigarro e ego. não vai dormir. mais uma vez. como tem acontecido sempre que se compara a outros objetos tão parcialmente disponíveis quanto ela mesma. vai se emocionar diante de qualquer jorro de ignorância estampada em uma TV de tardinha. um grito de socorro de seu próprio corpo, que ela vai ignorar. talvez questione  o porquê disso tudo para as paredes de um quarto silencioso e seu. mas escrever não vai. escolherá fechar os olhos e cantar uma música alegre para mascarar a decepção que não a surpreendeu tanto quanto não amá-lo mais. e jura novamente: não achei que fosse possível. 

 

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

QUANDO ALICE VAI PRA RUA O ESPERADO ACONTECE

 

Se Alice gritasse por André, quando se propôs a uma corrida estúpida para alcançá-lo na escada, ao mesmo tempo que Lídia, o dia amanheceria chuvoso e não apenas nublado, pois o clima muda de acordo com o humor dela. E a Via Láctea gira ao redor do seu umbigo.

 

sábado, 31 de janeiro de 2009

SOBRE JAZZ, MULHERES E O VAZIO, VOCÊ SABE.

 

Então na madrugada de uma segunda-feira eu me sentei à mesa com eles e ouvi, finalmente, sobre jazz e mulheres. Mais sobre mulheres do que jazz. Sobre a bunda delas. Babavam por gostosas alheios ao meu julgamento. Ou por uma necessidade de exibir indiferença por mim. Para autenticar qual era o meu lugar - de onde, mal sabem eles, nunca saí. Mantive-me calada o tempo todo. Eu queria ser apenas um porta-copos bêbado. Sorri. Aquele saborzinho atraentemente estranho de novos terrenos.

Não falaram do vazio. O tema nem chegou perto de suas salivas alcoolizadas como profetizado. Mas estava em mim desde a manhã anterior, quando olhei para ele dormindo, despido de sua verborragia charmosa. Quando pensei que, acordar ao meu lado, pudesse não ser exatamente do jeito que ele prometeu. Quando resgatei meus brincos do carpete e fui embora pisando ainda em meias silenciosas para não descobrir a verdade. Quando pensei que nem a mudez de seu sono, cortada pelos carros da avenida, me amparava. O vazio antecipando-se. Implorando para ser preenchido por alguma sessão de cinema que durasse mais de um mês. Por bobagens doces e turbulentas como ter o indicador dele desenhando espirais em meu ombro esquerdo.

Ouvi sobre mulheres. Gostosas. Muito mais do que eu. Pensando que sempre vou me sentir a bunda (ou a falta dela) desejada do bar se continuar insistindo em óbvias derrotas. Em desprezo atenuado com bandeiras brancas levantadas no final da noite. Em fugir de um  tapa na cara quando o dia amanhece e um simples olhar te responde o que você não tem coragem de perguntar. O tão suplicado fim. Raros e felizes instantes desintegrados para sempre pela fadiga de uma corrida cega.

O vazio eu não entenderia se me acompanhasse em outro momento, em outra mesa. O vazio não existiria sem manhãs como aquela em que o deixei dormindo. Em que o deixei.

 

sábado, 17 de janeiro de 2009

DESCULPE, MAS PRECISO IR

 

Desperdiçar meu silêncio

desligar convites

desistir de estrelar confrontos

desanunciar sofrimentos

despedaçar o tempo - remontá-lo, para que o início impere

desprezar a verdade dita - que morre na ausência da saliva

desdenhar provocações

desconhecer ilusões

descalçar certezas, torná-las conquistas amenas

desaparecer

des parecer

      par

de  pa  ce

des

d

.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

HOJE NA BRIGADEIRO

 

Não foi a sensação de liberdade por caminhar em uma tarde de quarta-feira. Não foi a música de que mais gosta tocando na lojinha de velas perfumadas. Não foi o sorriso que recebeu de um esbarro de olhares. Foi a placa na porta de um hotel. Precisa-se de arrumadeira urgentemente. Quase subiu as escadas. São quantos quartos? E para a recepção de madrugada, estão precisando? Lembrou-se de que o Zona Azul venceria e deu as costas a essa possibilidade. Subiu a avenida suspirando por mais caprichos (?) que a tirassem de sua bolha.

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