terça-feira, 12 de março de 2013

Futebol me deixa em coma


Eu tenho um problema sério com futebol. A atenção que dou pra ele é como uma bola num tiro de meta que alguém chuta pra outro bairro. Por isso eu só acordei depois do golaço. Num susto. O meu pai comemorando. Eu não tava dormindo. Eu não tava nem na cama. Eu tava na sala, exatamente como meu pai. Sentada no sofá, exatamente como meu pai. Na frente da televisão, exatamente como meu pai. E como eu consegui perder um gol daqueles? Onde a minha cabeça tava? Como eu driblei uma TV 42 polegadas gritando na minha frente?

Foi gol de quem, pai? Do Fernandão. E o Fernandão seria de qual time? O Fernandão é nosso, Priscila! Ah. Ele riu, porque meu pai passou da fase de me reprovar. Isso acontecia só quando eu tinha seis anos e perguntava se tal palavra era um palavrão. Sempre era.

Não consigo me envolver com um jogo por mais de. Deixa eu pensar. Acho que 15 segundos é o meu limite de dedicação a uma partida. O estranho é que eu sou uma garota bem normal. Quer dizer, eu me acho normal. Costumo tropeçar em mim mesma sempre que olho pra um rapaz do outro lado da rua. Em festas de família, roubo o brigadeiro antes do Parabéns – sem levar impedimento da Tia Dulce. Marco faltas quando danço na pista, onde cigarros e cervejas atacam qualquer um - não é jogo de corpo, é falta de educação das pessoas mesmo e eu revido, já que não existe juiz pra me amarelar ou expulsar.

Minha mãe nunca mencionou eu ter batido a cabeça quando criança ou ter me decepcionado com uma disputa, a ponto de justificar o estado vegetal em que fico no meio de um jogo. É sem querer. Apago. Entro em coma. Sou abduzida por um E.T. de Varginha, que me visita nas tardes de domingo e me leva pro shopping, sei lá. Sou hipnotizada. É isso, o futebol me hipnotiza. Estou na sala, de frente pra TV e de repente vou dormindo, vou dormindo, vou dormindo e aterrisso num lugar diferente e mais gostoso do que o campo. No trânsito de São Paulo, às seis da tarde, por exemplo. Aí, quando me dou conta, o zagueiro já está dançando Ai, Se Eu Te Pego pra torcida.

Será que eu também dormiria num estádio? Confesso nunca ter sentado numa arquibancada para assistir a uma disputa. E não é porque odeio o esporte. É porque não faz a menor diferença na minha vida. Se eu penso em futebol, no segundo seguinte já troco pelo brigadeiro da festinha da Tia Dulce que tá na geladeira, implorando pela minha mordida.

Hoje assisti na TV a um programa de esportes e só me lembro do funk que sonorizou a matéria. Mentira. Também não esqueço a calça que o apresentador usou. Jeans clara. Com isso concluo que, além de futebol, também perco a consciência com programas de futebol. Meu caso é médico. Talvez sofra de Insensibilidade Congênita ao Futebol. Vamos respeitar, por favor.

Esse pode ser o motivo para eu estar solteira e destinada ao sofá numa tarde de domingo pensando no brigadeiro da Tia Dulce. Só pode ser. Meus assuntos não têm testosterona. Sempre ficarei de escanteio numa conversa com rapazes. Precisarei apelar constantemente para o clichê da jogada de cabelo ou alguma frase bonita que li por aí – isso sempre tem um quê de espontâneo e encantador. Estou fadada ao brilho apenas em rodinhas femininas. Ao chuveiro. Estou completamente fora de campo.

Leia a coluna no site do Terceiro Tempo.

Um comentário:

Laila Cabral. disse...

Caramba Priscila, eu adorooooo futebol! Meu pai sempre me levou qnd era pequena, e vou com ele até hj ( 25 anos ).
Gosto tanto a ponto de deixar de sair com as amigas para ir ao estádio... Grito, berro, sento, levanto o jogo todinho! Sou daquelas que vestem a camisa do time na segunda-feira quando ele ganha. Sou rubro negra, torço para o Vitória-Ba, a final do Estadual é domingo que vem, estarei lá e não tem saído com Boy nenhum que me faça desistir de ir ao jogo. E por falar em boy já troquei telefones com alguns em intervalos de jogo. O clima de jogo super combina com paquera! rsrsr
Beijão

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